terça-feira, 16 de junho de 2009

. o que quero ser .

Por vezes desejamos transformar sonhos em abraços, transpor e transformar o incrível em tocável. Eu sonho com o que quero. Vejo-me como quero, não dimensiono a mim, pois não permito que me roubem o encantamento do novo. Não desejo o infinito, mas a felicidade do crível. Vou onde quero, passeio por paisagens e caminhos diferentes, atendo-me e atando-me às estradas e curvas que me levarão onde realmente quero chegar. Sou o que quero ser. Sou aquilo em que acredito.. Tenho e sou a chance personificada do meu desejo. Trago a doçura da felicidade aos meus dias. A força do recomeço ao meu corpo. A dor da saudade ao meu travesseiro. A esperança do novo ao novo, intrínseco ao passar do tempo. Sou feliz, embora não tenha as melhores coisas, mas vivo o que há de melhor em mim, faço das oportunidades a realidade que quero viver. Felicidade presente nas lágrimas, na dor de feridas outrora abertas, felicidade presente na busca e nas tentativas frustradas. A felicidade chegou-me por poder reconhecê-la em cada rosto que vejo, em cada abraço que recebo, em cada palavra de incentivo que escuto. Intensidade, eis meu passado. Brilhante, eis meu futuro. Perdoei erros, enterrei decepções. A vida é curta demais para que eu não permita que minhas emoções ecoem na eternidade.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

. das raposas e dos homens .

"O que é finito pode ser perfeito. Sou ser que não acaba, que não finda, que não se reconhece como limite de nada. Minha “finalidade própria” logicamente não é de ninguém. Sou pouco entendível, no entanto, bastante previsível. Sou imperfeita. Boneca de retalhos vestida de gente e, às vezes, pouco coerente. Minha falha narcísica me faz buscar no outro o que falta em mim, embora sabedora que sou EU força motriz do que quero e preciso. Cansei de entregar cartões de visita com minhas qualidades. Dane-se o que há de bom em mim! Quem se importa com meus valores, para muitos, ultrapassados? Fiquem com meu pior! Talvez assim estabeleça distância dos ardilosos fantoches de sorrisos falsos e cheios de sutilezas. Meu excesso de auto-estima me permite expulsar algumas personagens indesejadas de minha história . E, se há algo de que me orgulho, é das entrelinhas de minha vida. Sou forte, sei recomeçar. Mas, prefiro que saibam que choro e que tenho medo. A exigência dos meus braços por um abraço atesta todo egoísmo que mora em mim. Meu corpo, minha cabeça e meu coração estão cansados desse mundo incapaz. Incapaz de amar o próximo. Incapaz de ser verdade. Incapaz de gritar alto. Incapaz de ser verdadeiramente livre. Não acordo linda todos os dias. Ou melhor, não acordo linda nunca. Sou imediatista e impulsiva. Não sou alta, não sou magra, tenho celulite e minha inteligência é mediana. Tenho quase 27 e meu metabolismo está mais lento. Em minha veia, correm os extremos. Tudo que representa meio termo me incomoda. Ser maleável já não me parece interessante. No entanto, tal como o ouro, aprendi a ser dúctil. Meu coração mole, aos poucos me ensina a ser cabeça dura e a transformar meu cérebro em escudo. Eu entendo de futebol, de cozinha e de filosofia. No entanto, prefiro que se apegue a meu lado fútil que lê revistas de fofoca e se preocupa com que roupa vai usar tal dia. Ele, definitivamente existe. Sou brava e sentimentalmente burra. Detesto gente vazia e que “está na moda”. Detesto gente linda, mas com a essência fora da validade. Detesto gente limpa e de alma suja. Odeio o relógio que me faz lembrar que o tempo passa. De longe, quem mais me bateu foi o amor. E fez isso sempre me levando a bater na porta errada. Na porta dos covardes que usam a pseudo-desculpa do envolvimento. Na porta dos malandros contadores de histórias da carochinha. Na porta de intectualizados poetas de um mundo sem poesia. Na porta do cara que podia ser certo, mas que é errado, como o tempo que me trouxe e que me leva sem hora pra voltar. Não sou tão boa moça quanto dizem. Sei ser péssima, também. Imaginei que me faltariam dedos para contar os amigos que se tem, hoje sei que são cinco ou seis. Sinto-me mais ranzinza agora do que há anos. Meu lado doce já me trouxe muitos problemas com a insulina. Esqueci a ultima vez que chorei por alguém e felizmente compreendi que quem realmente vale minha lágrima, jamais me fará chorar. Não sou compreensiva com a frieza. Seja qualquer coisa, menos “abaixo de zero” ou receberá meu adeus. Quero alguém que me ame, em contrapartida, tenho medo de amar. Mais um sinal de um olhar que busca o próprio umbigo e comprova as cicatrizes de alguém cansada de se doar INTEIRA e receber metade. Estas palavras os olhos alcançam, ao passo que me fazem imperceptível para quem não merece me ver. Quisera nesse mundo que as raposas pudessem ensinar aos homens que “só se vê bem com o coração”.

domingo, 5 de abril de 2009

. meu ódio pouco sincero .

Agora, estou aqui sentada e convicta de que você não é aquele que julguei perfeito. Verdade seja dita, eu já imaginava. No entanto, ainda desejava. E a culpa não é da sua barriguinha ou da careca teimosa que se faz presente. Eu as adoro. Seu maior defeito é não permitir que eu permaneça em sua vida. Seria tão mais fácil se você não gostasse de filosofia e fosse menos carente. Se sua boca não me desse a sensação do conforto de um travesseiro sempre que meus lábios repousam sobre os seus. Você erra ao dar choques em meu corpo com sua pele e me fazer querer jogar fora a roupa da minha vergonha. Queria não achar lindo seu rosto amassado ao acordar, seus pés e suas mãos com calos que sugam de mim tanto desejo. Desprezar sua mania de arrumar o cabelo e perder tempo no espelho, quando deveria me fazer perder a cabeça. Você me faz te odiar todas as vezes que te adoro mais e sempre que busco só mais um pouco da sua atenção. Odeio amar seu cheiro e admitir ser frágil e esquecer da razão. Te odeio quando minutos depois de te ter perto, te transformo em saudade e te odeio uma vez mais por não me deixar cansar da sua presença, pois antes disso já te vejo indo embora.Penso em te matar por você não me fazer perguntas e eu questionar o motivos das interrogações que moram em meu coração. Detesto me sentir culpada por gostar de você e mentir para mim jurando não gostar. Minhas mentiras soam verdadeiramente sinceras diante do seu jeito irritantemente complicado. Se pudesse te esmurraria por me fazer sufocar minha vontade de te beijar e descobrir as entrelinhas da sua vida. Eu pareço louca por imaginar que não poderíamos dar certo e mais louca por empregar forças para crer com veemência nessa inverdade. Odeio a impotência diante do destino e mais ainda a sua incapacidade de me enxergar. Admitir-te imperfeito foi o modo mais inteligente que encontrei de arrancar a ironia que é você de mim. A sua mágica não fará efeito, pois não creio em sortilégios. Você mais me parece um disco arranhado repetindo imagens em minha cabeça, mas é seu som que devo silenciar. Odeio a idéia de perfeição que você libertou de mim e a guerra que declarou a nós dois. Detesto sua burrice que teima em não me abraçar e seu passado onipresente. Afasto tudo que te leva para longe, repelindo a infinita distância entre o que diz minha cabeça e o que impõe meu coração. E odeio, definitivamente, a completa ausência de um ódio sincero quando o objeto do ódio é você.

sexta-feira, 20 de março de 2009

. nua e crua .

Quando pequena, sonhos para mim eram somente aquele amontoado de imagens que vinham em minha cabeça durante o sono. De modo natural, o real significado se apresentou a mim e assim compreendi a importância que possuíam. Seriam eles força motriz capaz de mover e mudar o mundo.

Sonhei ter a boneca mais bonita, casa com piscina e um cachorrinho. Sonhei ser paquita, guarda de trânsito e estilista. Sonhei ter bicicleta, virar adulta e conhecer a liberdade. Sonhei encontrar meu príncipe encantado e com ele ter pequeninas princesas ou mesmo principezinhos.

Tive tantas bonecas que ter a mais bela se tornou pouco importante. Da casa, queria o abrigo. Não conheci a Xuxa. Findei advogada, sem carros para coordenar ou modelos para rabiscar. Pedalei quilômetros para chegar onde cheguei e por nada trocaria as rodas e pedais por asas. O chão de minhas pegadas passou a ser extensão do corpo que empregou esta jornada. Sou livre e adulta, mas pago um alto preço por desejar permanecer criança. Trocaria meus 26 pela despreocupação e alegria peculiares dos que têm 12. O amor, não mais precisa ser de conto de fadas, aceito um reino real, de sentimentos reais, vindo de alguém igualmente real, ainda que imperfeito.

Aceitar a mudança de perspectivas e de projetos não é atestar o fracasso, mas reconhecer limitações e, inobstante o medo, seguir adiante.

Tantas vezes temi não suportar as tarefas impostas, quedar diante do que fugia do meu controle. Mas, resolvi ter uma atitude positiva diante da vida encarando-a de frente. Não seria ela maior ou mais forte que eu. Não seria ela altiva o bastante para me silenciar ou me roubar o grito. Seria ela, sim, feita e criada por mim. Fiz do meu ponto de vista, meu ponto de partida, decidindo que caminhos seguir e que sonhos carregar em minha bagagem.

Temi mudar, mas reconheci que a mudança não é uma opção. É imposição. Compreendi que o processo de modificação é natural, que foge das regras estabelecidas pela profissão que escolhi em que se exige “a iniciativa das partes somada ao impulso oficial”. Muda-se para permitir a total percepção da própria natureza, estabelecendo um compromisso sincero consigo mesmo, com o que se desejar ser. Aquele que se abstém de mudar, morre com a alma nua e com fome. Não é somente o ponteiro do relógio que se movimenta, não é somente o tempo que passa Nós também andamos, passamos, mudamos. E mais, necessitamos mudar, transpor, ultrapassar.

Sou daquelas que dá a cara a tapa, que não tolhe sentimentos, que não engole palavras. Sou feita de verdade nua e crua. Sou daquelas que aproxima ou que afasta. Sim ou não. Meio termo me incomoda. Sou daquelas que conhece a morte, mas prefere a vida. Que vive de saudade, mas se alimenta de lembranças. Sou daquelas que se reconhece finita, mas é adepta das reticências e não do ponto final. Sou daquelas que compreende que nem tudo pode ser real e que, ainda assim, preferiu trocar os sonhos, pelo eterno sonho de não perder a capacidade de sonhar.


(Regina Melo)

quarta-feira, 18 de março de 2009

. manifesto FEMININO .


Domingo, o que passa na televisão dispensa comentários. Na sala, uma amiga discute com o ex namorado, que quer voltar a ser atual, mas que quando era atual se comportava como ex. Enfim, aquele tipo de coisa que só homem é capaz de fazer e que ainda somos obrigadas a aceitar passivamente, perdoar, compreender, além de mais um inúmero número de verbos relacionados a compaixão e paciência que somos compelidas a aprender a conjugar. Que fim de dia maravilhoso! Cá estou eu, escutando, meio sem querer escutar a discussão de relacionamento deles. Ela desligava o telefone e vinha me contar os argumentos nada inovadores dele. O telefone tocava de novo. Ela atendia. Brigava, dizia que não iria mais atendê-lo. Desligava, tocava, atendia, desligava, tocava, atendia...um ciclo vicioso. Detive-me na situação e, por alguns instantes fui tomada pela indignação. Deveria haver um manifesto feminino, nos moldes do comunista, com regras rígidas de comportamento, implantando uma revolução no agir, pensar, no modo de responder a opressão sentimental a que estamos submetidas. Seria um manual criticando duramente o sentimentalismo barato presente nas ações e palavras masculinas, na forma como se organizam em cartéis para quebrar e roubar corações indefesos. Acho incrivelmente triste escrever sobre esse tipo de assunto. Queria esquecer o lado obscuro dos sentimentos, essa necessidade gritante de competir consigo mesma buscando se mostrar bem e superior diante de determinada situação. Só de pensar nas diversas vezes em que fui objeto dessa “quadrilha”, sinto uma raiva sem tamanho de mim. As pessoas não se aceitam mais, e pior, as pessoas geralmente estão poucos preparadas para aceitar o outro, é travada uma luta contínua entre aquilo que é verdadeiro e superficial, entre a vontade de amar e de permitir que te amem. É inconcebível fazer parte da vida de alguém sem que esse alguém abra as portas pra você. Tornou-se mais fácil e prático magoar o outro do que encontrar motivos para vê-lo sorrir. Sei que esse comportamento deprimente não é privilégio masculino, muitas mulheres também pareceram esquecer o que é sentir, o que é amar, tentando se igualarem aos homens. A fraqueza é humana. Desvios impostos por uma sociedade burra e competitiva. Não quero deixar de acreditar no amor, no respeito, na vontade de se doar...eu quero acreditar que é possível ser feliz sendo eu mesma, sem precisar de manuais de comportamento ou de manifestos indignados cujo slogan é o óbvio “Mulheres do mundo, uni-vos”. Eu quero sim, seguir a cartilha dos sentimentos livres, verdadeiros e fiéis aos propósitos de felicidade intrínsecos aos seres-humanos. E mais, ao que exige meu coração.

quinta-feira, 12 de março de 2009

. democracia de merda .


Quantos de nós vimos soterrados os desejos? Dos pequeninos aos maiores. Não há uma criança que não reconheça em si a extensão dos próprios sonhos, assim como não existe aquele adulto que se veja como a limitação dos mesmos. É da percepção de si que nasce o homem. Seja errônea ou não. Terminamos não fruto do meio, mas fruto de nossos ideais.
Dificuldade maior do que compreender o que é um ideal, é transformá-lo num propósito. Tanto de mim restou enterrado por aí. Meu sonho de médica, de estilista, de ser pilota de avião.
Termino aqui, advogada. Inicialmente, o último atrativo que me fez enveredar por este mar “judicante” foram os ideais de justiça. Buscava realização pessoal e, embora sabedora de que esta era uma visão um tanto egoísta de tudo, não me afastei dos sonhos que tinha pra mim. Hoje, como operadora do direito, reconheço as falhas intrínsecas à realidade das instituições em que figuro como tal, no entanto, confronto estas convenções e busco o justo.
Fala-se em uma democracia com liberdades bem definidas e garantidas, guiada por um pensamento de bem-estar social comum, idéia inaugurada pelo Iluminismo, mas que nada! A verdade é que do Século das Luzes passamos para o Século da completa escuridão. O homem bom por natureza de Rousseau acabou corrompido pela sociedade, e sua divisão tripartida dos poderes foi distribuída a uns poucos sem noção de igualdade ou democracia. “Liberté, Egalité, Fraternité!”, eis o lema que encontraram pra mudar o mundo. Balela! Muda-se a forma de governo, mudam-se leis, mas não a mentalidade de quem dirige. Restamos nós, figurantes numa comédia ridícula.
Democracia figurativa, feita de fantoches engravatados. Democracia de merda!
Nossa Constituição fala de República. Faz-me rir. A “res-publica” em que um dia se acreditou restou enterrada junto com o assassinato de Cícero que um dia ousou instituí-la no Estado Romano. Persistiu uma república eivada de interesses escusos e imbecis.
Os ideais que poderiam me fazer crer num Estado Democrático de Direito não mais existem. Vejo violência, um país injusto, acuado por facções criminosas, autoridades com poder de ação limitado, vejo MEU PAÍS como detentor de 11% dos homicídios cometidos em todo o mundo. Vivo num “Estado Desigual no Direito”.
As pessoas estão demasiadamente corrompidas por prazeres aparentemente maiores do que mudar o mundo. Aqui e ali encontramos disponibilidade de poucos para tornar tudo melhor, no entanto, acabam funcionando somente como paliativos, como vozes roucas num mundo que grita palavrões.
Não se cura um câncer com pequenas doses do remédio. Valores quando destruídos não há como voltar atrás, é burlar a história de uma sociedade que desde o dia que abraçou a propriedade privada não mais se fez justa como um dia desejou ser. Os fatos aqui falam mais alto do que teorias acerca de um mundo igual.
Acaba sendo impossível ser cidadão. Que crença levar para as urnas? Que olhar dedicar a quem nos dirige? Como fazer do algo qualquer coisa que não seja uma obrigação eleitoral pura?
Desculpe, sei que falho como cidadã!
Estamos nos tornando um país burro, que violentamente tolhe da população a capacidade pensante, questionadora, pois não se acredita. O que um dia foi indignação e inquietude se tornou “ESPERADO”.
Que democracia é essa que leva até os sonhos?"

. 2.920 .


Mundo dos seres imperfeitos, 14 de março de 2009.

Mãe;


Andei buscando o endereço do céu. Aqui de baixo ele parece tão longe. Entre as nuvens não se formam ruas ou mesmo há números que me indiquem onde te encontrar. A verdade é que desde o primeiro dia de tua ausência te busco. E lá se foram 2.920 dias como o primeiro. 2.920 perguntas sem respostas. 2.920 imagens tuas multiplicadas infinitas vezes pela saudade. 2.920 lembranças do som da tua voz no silêncio de uma casa que já te pertenceu. Queria saber como é ver o azul do céu tão de perto. Se a nuvem na qual dormes é quentinha como o edredom com que cobrias teus pés ao dormir. Queria saber como andas ou se Deus te presenteou com as asas que possuem os anjos. 2.920 dias transmudados em 8 anos de tua partida. E é com esta idade de menina que me sinto quando clamo por teu abraço e pelo beijo de boa noite que davas todos os dias. Quando a saudade transborda, em meus olhos se formam gotas de ausência que, teimosas, fogem de mim. Sem hesitar, enxugo-as, pois bem me ensinaste a não lamentar. Há aqueles momentos em que me basta tua fotografia gigante na sala, ou mesmo a camisola que tantas vezes guardou teu cheiro. Mais uma vez ousei ligar para o número de telefone que usavas por aqui. Não mais há tua voz na caixa postal. Temi esquecer o barulho do teu riso e teu som em minha vida. Depois compreendi o quão boba fui, pois a verdade é que te terei em mim para sempre. Aqui embaixo, no mundo das provações e dos seres humanos imperfeitos. O tempo tem passado depressa. As tuas duas meninas cresceram. Muito Deus tem me ensinado. Em algumas lições falho, noutras saio vitoriosa. Sou página em branco pronta a ser escrita. Orgulhe-se, sua filha não tem medo da vida. Perdi bastante, mãe. Perdi tempo e recuperei. Perdi chances e as busquei. Perdi o rumo e me encontrei. O saldo que carrego em minha bagagem é positivo. Todos os dias, sorrio ao menos 20 vezes, falo para alguém da importância que tem para mim, rezo de olhos fechados, agradeço pelo que me é ofertado e lembro de escovar os dentes. A asma teimosa só não é mais presente do que a velha ansiedade que me persegue, mas o discernimento também é meu guia. Subi degraus importantes e o sonho que compartilhamos hoje é real. O coração, hora inquieto, hora em silêncio, está bem. Foi partido algumas vezes, mas restou forte e pronto para receber o visitante que nele fará morada. Não há com o que se preocupar, meus joelhos são fortes para sustentar o peso posto em meus ombros. Vez ou outra, és palavra viva em minhas conversas. Em meu trabalho, em nossa casa, entre meus amigos. Ainda te sinto. Sou corajosa o suficiente para admitir meu egoísmo dizendo que teu lugar é ao meu lado. Agradeceria se Deus subtraísse de minha história, ainda que por pequeninas parcelas de tempo, os 2.920 dias sem ti, só para que pudesse te abraçar, ou mesmo dar o ‘até logo’ que me furtou o destino. São 2.920 dias que até o instante de nos encontrarmos se tornarão infinitos. Ainda não compreendo ou aceito a morte, mas recepciono a idéia de que a tua vida é para ser vivida próxima a quem, de fato, é merecedor da tua presença. O meu mundo nunca foi teu. Teu mundo é de cores mais vivas, de sentimentos mais puros, um mundo distante da superficialidade do que é carnal. Teu mundo, é o mundo dos anjos, não o mundo dos homens. Mais um dia somado aos 2.920 hoje se inicia. Que em teu silêncio possas me recostar ao teu peito e, na ausência de palavras, chamar-me mais uma vez de filha. Aqui, permaneço te chamado de MINHA MÃE.


2.920 infinitos beijos de infinito amor.
Tua Filha.

sábado, 7 de março de 2009

. a gente sente .


Pra muitos, sentir representa vergonha, fraqueza, representa admitir que algo foge sim do controle, daquilo que parece sensato e aceitável. Vivemos numa sociedade alimentada do superficial, daquilo que se mostra para atender a padrões de comportamento e à regras de “como ser uma pessoa bem resolvida”. Acabamos esquecendo que sentimento foge do óbvio e que estupidez maior do que não sentir, é fugir dos sentimentos.

Sentir justifica o que parece injustificável. Ensina, traz o barulho pra dentro de nós, barulho parecido com aquela reunião aos domingos na casa de nossos avós, ao passo que ensina a quietude do silêncio tão cúmplice.

Todos os dias milhares de pessoas têm seus corações partidos, rios de lágrimas são derramados. Surge, então, o bom e velho discurso do “ Não quero me envolver”, ou quem sabe, “ Tenho medo”...

Amor rejeitado é sinônimo de coração dilacerado, transformamos nossa alma em algo pequeno, quase imperceptível, repetimos palavras roucas imaginando ser possível representar um teatro pra nós mesmos. Julgamos haver perdido tempo e ninguém estar apto a receber nosso amor. Acredito estar aí a prova da total dependência do amor que deveria ficar no passado e que repeliu o sentimento que estivemos dispostos a doar.

Não queremos amar, não queremos sentir, porque ainda amamos e ainda sentimos. Talvez não amemos a personificação do ser amado materialmente, mas o sentimento. Acenar para um amor que vai, é fazer o mesmo para si mesmo, é virar as costas para algo que aos nossos olhos terminou, sem nosso aval, mas que precisa urgentemente procurar um endereço diferente que não em nosso peito.

No entanto, as feridas fecham e ainda que com alguma dor aprendemos a dar adeus a aquele sentimento que de tão nosso restou tatuado no corpo e, finalmente, conseguimos ver ser possível mais uma vez amar, mais uma vez sentir...agora do nosso jeito, dando sorrisos mais sinceros, ainda que cautelosos, chorando às vezes, mas sabendo ser possível guardar lágrimas para momentos de alegria.

O amor não costuma pedir licença, não funciona como átomos ordenados para formar uma cadeia de carbonos, ou como uma fila de soldados. O amor arrebata, faz barulho, encolhe, recolhe e acolhe sem avisar. Domina, não aceita ‘não’ como resposta ou o ‘sim’ passivamente, o amor não tem o botão ‘liga-desliga’, o amor está na gente, é da gente, amor não se questiona, se tem sem desejar, amor a gente sente sem querer, mas meio que querendo. É! A gente sente. A gente sente...

quinta-feira, 5 de março de 2009

. para gostar de você .


Tudo seria mais simples se pudéssemos contar um “manual de instruções”. Aliás, você trouxe o seu? Não esqueça de mostrar onde fica seu botão “liga-desliga” ou se espante com o tom coloquial da nossa conversa. Cansei de palavras intelectualizadas demais, seriedade demais, regras demais. Começo dizendo que sou fácil de lidar. Sou mais para a água que se acopla a qualquer recipiente do que para a pedra cujo contato mais estreito machuca. Recaio quase sempre na obviedade do sexo feminino – romantismo exagerado, príncipe encantado, pés quentinhos na noite fria e família feliz. Algo errado com isso? Então, continuemos. Gostar de você não arrancará qualquer pedaço meu. Sendo mais sincera do que uma mulher inteligente ousaria ser, a verdade é que tiro pedacinhos meus e distribuo sem sentir qualquer dor. Para gostar de você, não haverá necessidade de grande esforço, faça presente em meus lábios o som gostoso do riso. Para gostar de você, não preciso acreditar em milagres, mas devo esperar gentilezas. Para gostar de você, precisarei de tempo para que me escute. Acredite, tenho boas histórias para contar. Meus ouvidos serão seus e minhas palavras mais bonitas. Para gostar de você, é necessário que eu acredite em seus sonhos. Para gostar de você, acompanhe-me nos excessos, daquilo que foge do convencional. Diga-me um bom dia inesperado, dê-me um beijo demorado com olhos apertados. Para gostar de você, estenda a mão e me acolha entre seus braços na hora da saudade. Dispa-me com olhos famintos e me ponha para dormir. Para gostar de você, faça-me crer que o sono é mais sonho e menos mundo real. Sorria com meu lado criança e se orgulhe do meu lado mulher. Para gostar de você, leia atenciosamente minhas cartas românticas e reconheça nas entrelinhas aquilo que não consigo, no entanto, pretendo dizer. Para gostar de você, faça-me não esquecer do seu cheiro, da sua pele, e do som da sua voz. Para gostar de você, seja alguém real, que desrespeita imposições, que foge de convenções e vive sem temer a vida. Gostar de mim não parece tarefa tão fácil, pois não sou daquelas que tem hora certa para tudo. Posso ser brisa ou furacão, silêncio ou trovão. Respeito o meu tempo, que é sempre agora. Para gostar de mim, você não poderá exigir um manequim 36. Visto 42. Para gostar de mim, não farei o tipo orgulhosa, dona da verdade, daquela que é alheia, que não conhece a saudade e que se diz fugitiva dos sonhos. Aqui dentro bate um coração. Para gostar de mim, não espere o tipo boa moça. Ainda que reconheça limites, também me excedo. Para gostar de mim, é preciso saber lidar com demonstrações de carinho sem achar que representam juras de amor eterno. Para gostar de mim, é importante saber que não estarei linda o tempo todo. Minha pele não é de pêssego e meu corpo não é de modelo. Para gostar de mim, não poderá haver exigência de perfeição. Sou orgulhosa e, às vezes, intransigente. Também não venho com manual de instruções e dispenso todo aquele que está disponível no mercado. Não costumo aderir a regras de comportamento para mostrar ser o que não sou. Não faço tipo mulher fatal, devoradora de homens. Sigo meus instintos e confesso que nem sempre (ou melhor, quase sempre) não dá certo. Mas sei que errar muitas vezes é a maneira mais inteligente de acertar o alvo em cheio. Meio acerto equivale a dois erros e meio. Sou sentimentalmente burra e, em contrapartida, racionalmente consciente dos meus sentimentos e, deles não me privo ou privo de saber da existência aqueles que o detêm. Cansei do papo de mulher perfeita e que assusta. Dane-se a meia dúzia de idiotas que me deixaram passar, assim como aqueles que igualmente o farão. Não mais acredito em “tempo para isso e para aquilo”, a vida é hoje e meu coração ta dispensando ser colocado em um congelador. Provavelmente, para gostar de mim, você pensará duas vezes se valerá a pena. Para ser sincera, não pense mais. Siga adiante, pois sou daquelas que para gostar de alguém exige certezas e não pontos de interrogação. Sou daquelas que é bem mais mulher e, definitivamente, não nasceu para figurar somente como uma opção.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

. reinvenção .


Nasci na Bahia em 29 de setembro de 1982. Adoraria reviver meus 10 primeiros segundos de existência, meu contato com ar, com os braços de minha mãe, com aquilo que sem pedir me deram e chamaram de vida. Talvez assim soubesse qual foi minha primeira impressão sobre e mundo e poderia falar mais seguramente sobre quem sou. Detesto confissões e falar de mim seria confissão velada e paisagem exposta numa moldura que nem sempre condiz com a verdade. Posso fazer crer que sou mais, embora sabedora de ser menos, posso derramar sonhos e comportamentos que não são meus, parecendo ser politicamente correta, ainda que adepta das incorreções. Minha vida mora em minhas palavras, nas que digo e nas que silencio. saibam que é no meu silêncio que me encontro. Gestos falam, por isso neles me perco. O não fazer nada traz inquietude, mas aprendi que fazer demais atormenta. Não sou fiel seguidora da inércia, embora meu discurso pareça condizente com isso, mas acredito que aceitar o tempo de tudo exige de nós menos ação e mais crença na realização. Tenho 26 anos e todos os dias faço um esforço para esquecer minha idade, caso contrário seria difícil viver um dia de cada vez e reinventar-me. É reinventar-me sim! Pois o que o que é cada recomeço senão uma reinvenção? Dizem que sou engraçada, no entanto, a verdade é que sou feliz. E a felicidade é semente que aflora em forma de riso, por isso cultivo meu jardim. Há aqueles que falam que sou sentimental, denominação apropriada para quem acredita nos sentimentos. sei que o que tenho me basta, mas a insatisfação funciona para mim como estímulo. Ser insatisfeita é combustível que satisfaz minha máquina de sonhos. Acho que amei duas vezes. Esse achismo é porque tenho a idéia de que amor de verdade nunca acaba. Fui amada somente uma. Beijei de olhos apertados, senti borboletas na barriga e escolhi o nome dos meus filhos. Lembranças e planos que guardei numa caixinha chamada memória. Costumo me doar demais e acreditar em palavras bonitas. Preciso dizer quantas vezes me frustrei? Ainda assim busco ter uma atitude positiva diante da vida, sem tolher o que sinto. Sou péssima jogadora, por isso não jogo. Freqüentemente levo cartão vermelho, mas saio de campo com a camisa suada sabendo que o melhor de mim foi deixado ali. Detesto a sensação de pouca disponibilidade e compromisso que povoa as relações, mas continuo acreditando em príncipe encantado. E não me importo que ele venha de ônibus ou a pé, desde que possamos caminhar juntos. Nada pra mim é sintético, gosto de longuidão. Conversas longas, cartas intermináveis, amores intensos. Mas, também sei dar um ponto final. Não sei dosar palavras, mas se quiser me silenciar somente me abrace. Sou um amontoado de somas, divisões, elementos. Sou um amontoado de interrogações, de vírgulas, reticências. ..Sou um ponto cego para tantos olhos que esquecem que sou aquilo que não se vê, pois sou o que habita do lado de dentro.