quarta-feira, 18 de março de 2009

. manifesto FEMININO .


Domingo, o que passa na televisão dispensa comentários. Na sala, uma amiga discute com o ex namorado, que quer voltar a ser atual, mas que quando era atual se comportava como ex. Enfim, aquele tipo de coisa que só homem é capaz de fazer e que ainda somos obrigadas a aceitar passivamente, perdoar, compreender, além de mais um inúmero número de verbos relacionados a compaixão e paciência que somos compelidas a aprender a conjugar. Que fim de dia maravilhoso! Cá estou eu, escutando, meio sem querer escutar a discussão de relacionamento deles. Ela desligava o telefone e vinha me contar os argumentos nada inovadores dele. O telefone tocava de novo. Ela atendia. Brigava, dizia que não iria mais atendê-lo. Desligava, tocava, atendia, desligava, tocava, atendia...um ciclo vicioso. Detive-me na situação e, por alguns instantes fui tomada pela indignação. Deveria haver um manifesto feminino, nos moldes do comunista, com regras rígidas de comportamento, implantando uma revolução no agir, pensar, no modo de responder a opressão sentimental a que estamos submetidas. Seria um manual criticando duramente o sentimentalismo barato presente nas ações e palavras masculinas, na forma como se organizam em cartéis para quebrar e roubar corações indefesos. Acho incrivelmente triste escrever sobre esse tipo de assunto. Queria esquecer o lado obscuro dos sentimentos, essa necessidade gritante de competir consigo mesma buscando se mostrar bem e superior diante de determinada situação. Só de pensar nas diversas vezes em que fui objeto dessa “quadrilha”, sinto uma raiva sem tamanho de mim. As pessoas não se aceitam mais, e pior, as pessoas geralmente estão poucos preparadas para aceitar o outro, é travada uma luta contínua entre aquilo que é verdadeiro e superficial, entre a vontade de amar e de permitir que te amem. É inconcebível fazer parte da vida de alguém sem que esse alguém abra as portas pra você. Tornou-se mais fácil e prático magoar o outro do que encontrar motivos para vê-lo sorrir. Sei que esse comportamento deprimente não é privilégio masculino, muitas mulheres também pareceram esquecer o que é sentir, o que é amar, tentando se igualarem aos homens. A fraqueza é humana. Desvios impostos por uma sociedade burra e competitiva. Não quero deixar de acreditar no amor, no respeito, na vontade de se doar...eu quero acreditar que é possível ser feliz sendo eu mesma, sem precisar de manuais de comportamento ou de manifestos indignados cujo slogan é o óbvio “Mulheres do mundo, uni-vos”. Eu quero sim, seguir a cartilha dos sentimentos livres, verdadeiros e fiéis aos propósitos de felicidade intrínsecos aos seres-humanos. E mais, ao que exige meu coração.

Nenhum comentário: