domingo, 6 de abril de 2008

. o improvável .


Quando pequena esperava o natal ansiosa, todas as noites antes de dormir conversava secretamente com Papai Noel, pedia meus presentes, sempre bonecas ou quem sabe uma bicicleta.

Jamais meus pedidos foram frustrados, quanto a isso Papai Noel não falhou.

Irremediavelmente um dia a verdade surge e sabemos, não com pouca dor, que Papai Noel é aquele barrigudinho que todo dia te leva à escola e te manda comer com a boca fechada. Idéia difícil de ser digerida, mas que com o passar do tempo aceitamos.

Já adolescente, nossas preocupações mudam. O espírito natalino vai embora, na verdade parece que nem existiu, assim como Papai Noel. As preocupações se voltam para que roupa usar ou que presente dar de amigo secreto. Vamos ao cabeleireiro, pintamos as unhas, vestimos o melhor figurino...Tudo isso para se empanzinar com um peru de carne dura, que no outro dia será responsável pelos “Ai como eu to gorda!” ou pelos “Eu juro que nunca mais vou comer assim!”. Aí vem o reveillon e você ta lá, comendo como um flagelado e agarrada com o peru como se ele fosse seu príncipe encantado. Sem contar que fazemos tudo isso para encontrar as mesmas pessoas que encontramos todos os finais de semana e falar dos mesmos assuntos. Mas, chato mesmo é ter que desejar um feliz natal pra aquele parente insuportável, quando sua vontade é enfiar-lhe um tapão no pé da orelha.

Assim como é irremediável a verdade do Papai Noel, também é irremediável a verdade do tempo. E ele passa! Ah como passa! E dessa forma o Natal e a própria vida perdem um pouco do sentido.

O que era a justificativa para o peru, roupas novas ou para falsas felicitações, torna-se a única alternativa para acreditar que algo pode mudar.

Assim que marcamos o tempo, como se um simples 24 e 31 de dezembro resolvessem problemas magicamente. Eu mesmo, rompi o ano de rosa...um novo amor, nada mais revigorante! Acreditei nisso com tanta veemência que queria que em toda esquina ele aparecesse. Confesso que é chato ter essa visão romântica da vida, mas é mais chato ainda ter que empregar uma fuga de nós mesmos. Até me equilibrar em um pé só ( o direito é claro), nos últimos 10 segundos de 2007 eu me equilibrei.

Perguntem-me o que mudou? Nada. No fundo sempre soube que todos os dias são de renovação e que por mais que eu aprenda a voar, ao invés de só me equilibrar, as coisas serão sempre da forma que devem ser. Como eu, existem tantas. Um primo meu certa vez disse que todo dia espera encontrar o amor de sua vida no trânsito. Eu sorri. Achei engraçado um homem esperar o improvável, esperar o amor. Pensei que só eu sofresse desse mal.

Passei bastante tempo com alguém que por um período me fez muito feliz e cuidou de mim, foi assim que conheci o amor. Não economizei sentimentos e planos. Beijei com os olhos bem apertados e chorei de saudade, mas chorei também com as frustrações, com as expectativas não correspondidas, com as mentiras tão verdadeiramente pronunciadas. Conheci do fim, aprendi que o amor também acaba, até quando você confessa ao seu travesseiro que acredita que ele será infinito.

O meu jeito de lidar com tudo isso incomoda, inclusive a mim, mas não posso permitir que contas matemáticas invadam a MINHA VIDA. Toda verdade sobre mim está nas minhas palavras e, delas não abro mão. Prefiro dizê-las a alimentar expectativas fadadas ao fracasso. Regras de três não funcionam numa vida a dois. Mas confesso que, assim como meu primo, continuo acreditando no improvável.

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