segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

. livro, sentimento do mundo .

Desde sempre tive uma afeição natural aos livros, não que estudar fosse meu forte, afinal mesmo sem querer era tomada pela inevitável preguiça que assola a grande maioria dos estudantes. Leitura por obrigação jamais me atraiu muito, pois ler deve ser algo prazeroso, edificante, algo que te faça suspirar e parar diante de uma frase que te remexa por dentro.
No entanto, ler deve ser um encontro entre a palavra e o que se busca com a leitura. Uma leitura bem realizada é aquela em que o leitor não a aceita passivamente, não a toma como verdade inexorável e inquestionável, a boa leitura nos faz interrogações ambulantes, questionários vivos de nós mesmos.
Acredito que não existe um jeito certo de ler ou coisas certas a serem lidas, parto desse pressuposto pois acho essencial respeitar a busca de cada um. Ora, se D. Fulaninha quer ler as revistas de fofoca, que as leia. Se Dr. Sicrano prefere um ensaio sobre a cultura da globalização que vá em frente! Eu mesmo leio tudo, do banal ao teatral, o que alimenta o intelecto ou o enche de lixo. Leio jornal, poemas adolescentes e passo também pelos textos esquerdistas de Istvan Mèszáros, embora minha posição política seja oposta. Leio Paulo Coelho, livros de auto-ajuda, revistas femininas que me ensinam truques de sedução e Orhan Pamuk, escritor turco que recomendo pela pano de fundo de seus livros, mas cujo texto é tão mórbido que mais parece canção de ninar.
A gente lê bula de remédio, livro de conto de fadas e shampoo, sem sequer nos darmos conta do bem que nos fazemos. Conhecimento se acumula e nenhum deve ser desperdiçado ou tido como pouco importante. Ler é alimentar um pouco da alma, é permitir que o outro te toque sem criar barreiras intransponíveis, é deixar que alguém viaje por dentro de você sem te conhecer.
O livro é um coração que pulsa em nossas mãos, é um ser que cuidadosamente despeja palavras para serem lidas, sentidas, sorvidas. Suas páginas são veias de sentimentos do mundo.
Pode parecer pouco interessante para quem lê o que escrevo agora, na verdade, isso pouco importa. Meus pensamentos aqui são frutos de devaneios que me povoam ao colocar a cabeça no travesseiro todas as noites.
Por instante, questionei-me que livro gostaria de ser. Algo Agatha Christie ou quem sabe Lispector? Garcia Márquez ou Neruda? Allende, Coelho, Pamuk, Caldwell? Conto de fadas ou faroeste? Passearia por monstros e príncipes ou pela beleza de poesias? Concluí, não com pouco esforço, que não existe livro certo a ser, pois buscar pedaços de mim em histórias ou estórias lançadas em páginas que devoro com olhos famintos é cair na obviedade dos que se reconhecem como seres limitados e previsíveis .
A graça da vida é ser livro aberto, pronto a ser lido, com páginas em branco e livres para receber os mais improváveis rabiscos, as mais belas palavras escritas a quatro mãos, as nossas e as do destino.

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