Já me falaram que pra ser interessante tem que ser bonita, que pra ser bonita tem que ser magra, que pra ser magra tem que passar fome. Já me falaram que para ganhar dinheiro tem que trabalhar, mas que pra conseguir um bom trabalho tem que ter sorte e que sorte não se compra no mercadinho da esquina. Já me falaram que ter sonhos é bobagem, que sonhar muito é ocupação de preguiçoso e que preguiça faz mal. Que Papai Noel não existe e que só acredita nele quem é criança e que ser criança é tempo finito. Já me falaram que o bom é o preto no branco, que usar preto emagrece e que roupa branca se lava com água sanitária. Que dormir oito horas é o certo, desde que se deite às 10h e se levante às 6h, passando disso te chamam de desocupado. Já me falaram que ler é importante, mas que leitura boa é aquela de gente inteligente e que parecer inteligente ta na moda. Que ser educada é falar baixo, cruzar as pernas quando se senta e que permanecer sentado muito tempo interfere na circulação. Já me falaram que escrever é terapia e que terapia é coisa de maluco. Que ser feminina é estar sempre cheirosa e arrumada, mas que mania de arrumação é irritante. Já me falaram que homem adora mulher de unhas pintadas de cor clara e sem celulite. Que a vida de solteiro é vazia e que a vida de casado enche. Já me falaram que homem não presta e que amor de verdade é estória de novela mexicana. Que romantismo é coisa do passado, que pra se dar bem a gente tem que jogar. Fingir ser. Fingir sentir. Fingir sorrir. Fingir mentir. Fingir fingir. Mas, falaram-me tb da importância de ser fiel a mim, de fazer crescer a crença em minhas convicções. Falaram-me: Regina, seja a senhora das suas opiniões! Que não existem verdades inexoráveis. Então, descobri que beleza de verdade é que ta do lado de dentro, que pra ser bonita basta se sentir assim. Descobri que comer além da conta às vezes não faz mal a ninguém e que dinheiro não é o mais importante. Aprendi que sorte é materialização do esforço e que o trabalho dignifica qualquer conquista. Descobri que sonho é como o sangue que corre nas veias e que ter preguiça é natural. Que permanecer criança é tão importante quanto se tornar adulto. Aprendi que ao preto e ao branco podemos misturar cores e fazer do mundo um arco-íris. Aprendi que não importa dormir 8 min, 8 horas ou 80 anos, se o que vale é estar acordado para os sinais que a vida nos dá. Aprendi que ser desocupado é um tipo de ocupação que estabelecemos com o nada e que fazer nada também cansa. Que todo tipo de leitura alimenta desde que nos remexa por dentro. Que a inteligência da moda é aquela que nos permite entender e aceitar o outro como nosso irmão. Aprendi que ser educada é demonstrar respeito. Que gritar limpa o espírito. Que pra circulação é bom fazer caminhada e que é pra frente que se anda. Aprendi que caneta e papel em mãos é arma contra a melancolia e que todo mundo precisa de terapia. Que de médico e louco tb tenho um pouco. Aprendi que felizes são os malucos, pois eles são livres. Aprendi que o que irrita é necessário e que até o necessário é prescindível. Que esmalte escuro fortalece as unhas e que celulite é feminino. Aprendi que o que preenche a vida não é seu estado civil, mas o recheio que escolhemos para colocar dentro dela. Aprendi que o sexo masculino é sofisma e, por isso, sempre inconclusivo e inconcluso. Aprendi que ser antiquada é bacana e que tb posso ser atriz de novela mexicana. Aprendi que ser má jogadora não me torna necessariamente uma perdedora. Aprendi que o amor tb pode vir de mãos dadas com a dor. Aprendi que não adianta forjar sentimentos, ensaiar sorrisos, maquinar mentiras ou fingir ser fantoche dos acontecimentos. Aprendi ser EU, com todas as cargas, todos os pesos, todas as dores, amores e dissabores que ser EU me traz. Mas, ser EU, é divertido. Isso, ninguém me falou. Aprendi sozinha.
sábado, 22 de março de 2008
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Um comentário:
Na vida, a maioria das coisas aprendemos sozinha...
Você é especial!
Tá tudo perfeito!
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