terça-feira, 30 de dezembro de 2008

. amor sem medo .

Andei pensando sobre amor, sobre amar. Andei falando de amor. Amor meu. Amor eu. Pode-se amar quantas vezes? Infinitas, eu sei. Sozinha demais ou feliz de menos, eis que vem a vida e mostra o milagre. O milagre do amor. A coragem de torná-lo real a nós caberá, no entanto, tantas vezes para ele fechamos a porta e acabamos o mandando voltar. Joga-se a chave fora, trancafia-se o coração. E não me diga que se for amor voltará, pois talvez nas linhas do destino não esteja escrita sua permanência. Restou guardada em segredo, aos suaves murmúrios do meu medo, na espreita, na espera o que quiçá não virá ou por completo me dominará. Se eu me desvendo, é que me escondo, nessa fuga arredia eis que o encontro. Então que desconheço meus caminhos, meus arrepios...são tantos espinhos. Mas o amor, ou somente sua sombra, ensina-me os passos, o equilíbrio...e crio os gestos, imagino o toque de quem ama ou de quem se deseja amar. E pra isso nem sonhei. É real, pois amar é real. É trivial. Amar novamente será como amar a primeira vez, viagem sem mapas, barco sem vela, imprevisto, presságios errados, certezas incertas. Ainda que incongruente sempre desejaremos viajar...e assim vou, sem rumo, olhos cerrados, barriga com borboletas, feridas abertas...A dor, esta eu sei que é efeito de quem quer viver, e vivo, não desisto, sinto, amo, descubro, busco, mergulho, recomeço E sem receio o recebo. Sem trégua, sem exigir o toque dos deuses. Quero amor real, vindo de alguém que me ame devagar, que me descubra sem pressa e me abrace com força. Quero um amor que me faça livre e que voe também, amor de lábios para beijar, de pele para sentir, de coração para pulsar. Amor sem rótulos ou com enfeites de uma felicidade inalcançável. Um porto seguro, de rígidas fundações. Partida, chegada. Amor sem sombras. Amor Romântico. Todo amor é abrigo, é ilha, é rio. Amor de verdade tem que ser leve, como uma dança, sem consumir, mas pronto a ser consumido. E eu esbravejo minha ausência de medo para tê-lo e querê-lo, pois recheio meus breves anos de amor, salto muros e quebro paredes. Não quero a solidão tecendo a minha vida, nem o desencanto ao meu canto de viver. Quero dias plurais, de palavras soltas, de sorrisos exatos, de árvore crescendo, de dois que se confundem e se entrelaçam num só. Eu quero amar, amar mais, amar sempre. Amar alguém. Amar o próximo. Amar minha própria contradição. Amor com espaço para meus poemas, para meus sorrisos e amor para dar àquele que comigo encare essa minha ausência de medo de amar e simplesmente ame, também.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

. não sou .

Certamente não sou eu
Certamente não sou quem sou, ou mesmo quem se é
Sou hoje noite inquieta e encarcerada por furtar pensamentos
Quisera eu dizer tudo, embora sabedora de nada
Toda lembrança de algum lugar me faz companheira da noite em sua prisão
Quem sou além do meu silêncio?
Dessas palavras roucas que fogem de minha boca inerte?
Os olhos falam, amordaçam, lecionam o que não vejo
Será o medo? Serei medo?
Não.
Mas me falta a coragem

quarta-feira, 30 de julho de 2008

. genética da alma .


O tempo passa exatamente do modo que desejo e com os olhos que pretendo que ele tenha. Em algumas ocasiões não consigo me permitir sentir certas coisas e acabo preferindo a quietude de emoções amenas. Noutras mais pareço um turbilhão de emoções prestes a explodir. Cada dia mais me convenço de que o meio-termo é para poucos.

Castiguei-me por isso. Seria “eu” incapaz de ser detentora do tão sonhado equilíbrio? Desfiz-me da razão para responder a esta pergunta e me aceitei INTEIRA.

Para a inteireza, juntei tantos cacos meus que restavam por aí e vi cada corte que em meu corpo foi aberto. Rever as dores é sentir uma vez mais, é se renovar, fortalecer-se em silêncio.

Durante bastante tempo busquei sujeitos para responsabilizar minhas feridas. Teorizar a raiva, ora amena, ora vibrante, ora sorrateira, ora pulsante. Resolvi encará-la simplesmente e percebi que raiva é sentimento meu, privativo e que pode sim funcionar como um impulso positivo, capaz de me alavancar e levar embora a nada edificante auto-compaixão.
Compreendi, assim, que os dias passam para que possamos entender a vida de modo cru, o pacote completo (o bom, o ruim e o péssimo estão inclusos!). Compreendi, ainda que doendo tantas vezes, que viver é reinventar-se diariamente, permitir que partes de nós morram para que outras possam nascer.

Passei a ter uma postura diferente em relação ao irremediável e acabei fazendo uma reconciliação comigo mesma, com aquilo que poderia ter sido e não foi. O "SE" condicionante de tudo. É preferível deixar no caminho os cadáveres e as lamentações. NO AMOR. NAS AMIZADES.

É tão importante respirar o mundo e junto com ele. Sentir o vai-e-vem dos pulmões e estabelecer um diálogo silencioso com nós mesmos. Na maioria das vezes acabava trazendo cargas banais para minha vida e transformando em tragédia uma mera chateação: brigas com meu pai, preocupação com minha irmã, dinheiro, com a calça que às vezes aperta.

Hoje sei que reagir é imprescindível e o modo como fazer isso é uma questão de genética, "genética da alma". Mudar perspectivas ou simplesmente ler um livro, escrever, dançar, empanturrar-me de biscoito "passatempo" e bolinho de goma, tomar licor de menta e vodca, conversar banalidades com minhas amigas é a forma bastante terapêutica que escolhi para viver. Acho-me razoável e pessoas razoáveis sabem que o ser humano não é lá grandes coisas, mas ainda assim prefere admirá-lo e ver beleza quando se abrem as cortinas da realidade. Muda-se a paisagem, mas continuo com os pincéis em punho para pintá-la ao meu modo.

Pensem comigo: seria desinteressante se tudo fosse inerte e esperado. Se a minha visão infantil do mundo fosse a certa - muita obviedade para uma menina. Se eu não houvesse descoberto que Papai Noel de gordo (um pouco até hoje!) e barbudo não tinha nada, que as pegadas do coelhinho da páscoa eram cuidadosamente feitas com talco por minha mãe enquanto eu dormia.

Caso meus olhos pudessem ver concretizadas as ilusões de uma criança sonhadora (isso serei sempre, que me desculpem os céticos!), estaria hoje eu, mulher, sentada e cansada da excessiva coerência.

terça-feira, 29 de julho de 2008

. camiseta velha .


Abro meu guarda roupa. Tanta coisa amontoada, mas fui eu que deixei amontoar. Mania boba essa minha. Encontro aquela camiseta branca que tantas vezes me vestiu, que tantas vezes me cobriu. Lamento, cara camisa, mas a partir de hoje seu lugar não mais será em meu guarda roupa. Cansei de lembrar de vc, de querer vc comigo sempre que outra roupa não se fizesse adequada para essa ou aquela ocasião. Para a MINHA ocasião. Já pensei em derramar cores nesse seu branco, quem sabe assim poderíamos, eu e você, fazer parte de uma mesma paisagem mais colorida, mas terminava sempre chegando à conclusão de que teu branco era intocável. Decidi que preciso de uma outra camiseta, com a qual poderei desfilar em outras avenidas, dobrar de uma maneira diferente, ir ao shopping, à praia, ao supermercado, uma camiseta que me abrace diferente e uma camiseta para abraçar. Aqui estou, pronta para uma mais uma aventura amorosa com uma nova camiseta branca. Sim, pq segundo me ensinou a vida, nada como renovar o guarda-roupa. A vida entende de todos os assuntos, é excelente professora...Ainda que falemos d moda! Faz com q possamos enxergar pequenas manchas do tempo, ou quem sabe de macarrão naquele tecido que achávamos ser feito pra durar. No caso dessa camisa que agora me desfaço, confesso que aquele branco intocável pareceu-me meio amarelo, meio sem graça, meio meio sabe? E o que eu preciso é do INTEIRO. Pode parecer estranho, mas cheguei à conclusão que essas camisetas brancas possuem lógica própria, ainda que tão ilógica. Mas antes de respeitar essa lógica, ponho a minha em primeiro lugar. Confesso que uma camisa nova será uma forma luminosa de recomeçar, de materializar a paixão que se foi com a camiseta antiga. Não é uma simples camiseta que passará a figurar nas minhas roupas ou funcionar como intermediária de outra camiseta que por certo virá, pois é com ela que vou me cobrir agora, é com ela que estabelecerei intimidade, é a partir dela q empregarei a velocidade milagrosa do esquecimento do tecido que outrora me aqueceu. Qual será o destino desse pedaço de tecido amarelado? Deixarei-o por aí, pode ser que se acople a outro corpo, que limpe o chão, que por sortilégio a cor da paz se torne reluzente uma vez mais. Confesso que ao me livrar do que quer q seja isso não mais me interessa, então que o tempo leve, que a chuva arraste, que o sol queime, vou mudar de idéia, vou mudar o rumo e mudar o tecido. A perfeição absoluta da sentença que o destino escreveu pra mim deve estar cravado em outra etiqueta.

terça-feira, 15 de julho de 2008

. admirAMOR .


“AdmirAMOR””

Durante a volta de uma viagem que fazia com uma amiga tive aquele tipo de conversa que ela como poucas sabe proporcionar. Os minutos passaram e sem que pudéssemos perceber já tínhamos chegado.

Falamos de banalidades do tipo: como me vestiria em seu casamento, gordura trans, sobre o “bico” da renda do seu vestido que por mais que me esforce não consigo lembrar o nome...Falamos sobre relacionamentos, sobre nossos planos e minha possível ida em definitivo para São Paulo, até chegarmos ao assunto que agora me proponho a escrever.

De antemão, aviso àqueles que estão lendo que poderá soar desinteressante e que em nada me frustrará o fato de não lerem o que tenho a dizer.

Nossas palavras giravam em torno dos valores que eu dizia acreditar. Discutimos o “porquê” de eu sempre permitir me apaixonar facilmente, de acreditar sem as precauções devidas em tudo que falam. Chegamos à conclusões diversas: eu ainda não conseguia enxergar que o mundo deu voltas, que as buscas das pessoas foram modificadas pelo incessante processo de TER. Poderia ser também por azar, tentando encarar a situação de modo simplista.

Recaímos na necessidade da ADMIRAÇÃO numa vida a dois. Admiração que precede o desejo, a beleza, capaz de sustentar por anos ou até o fim dos dias o que supostamente já foi amor. Então que minha amiga me falou algo bastante interessante: os casamentos de antes não surgiam do amor, do tesão. Casava-se para depois vir todo o resto. Descobriam após o “SIM” o que era amar, sexo, desejo. Os companheiros antes de amar as esposas, admiravam-nas. Enxergavam virtudes como fidelidade, respeito, amor incondicional, além da família como instituição.

Nada tão certo quanto o tempo! Que chegou e trouxe a tiracolo uma feminista com intenções revolucionárias, gritando aos quatro cantos que somos iguais aos homens, que mais importante que “sentimentalismos” é a postura segura que nós mulheres temos que ter diante da sociedade.

“Feministazinha Desgraçada!”

Não que eu ache que somos inferiores ou menos importantes, que direitos não devem ser igualmente concedidos ou respeitados. Mas diferentes somos sim! As indagações desse suposto feminismo (que de suposto não tem nada!) ecoaram equivocadamente de modo a distorcer valores. Esqueceu-se, assim, da percepção feminina dos sentimentos, do nosso jeito de amar e de falar de amor, dos sonhos e ideais românticos a nós tão peculiares.

A revolução feminista implantada transformou tudo isso em balela. Mulher hoje tem que ser, antes de mais nada, bonita, com a barriga sequinha, com neurose de gordura e profunda entendedora de suplementos alimentares. “Quem sabe assim me enxergam?!”, pensa. Mulher hoje tem que aprender a usar os homens, tem que parecer moderna e ser adepta do sexo casual. Só desta forma mostra, na verdade tenta, uma pseudo-independência do outro. Não pode ligar para dizer que tem saudade. Falar de sentimentos? Nem pensar. E de planos? Fora de cogitação. È o mesmo que dizer: “Dê-me um pé na bunda!”

Eu mesma já me disse baixinho: Desacredite no amor, ele definitivamente não existe!

Repito, quase aos gritos: “Feministazinha desgraçada!”

Conseguiu modificar a visão que os homens têm de nós.

Agora eles querem um braço de 40 cm para conseguir aquela “gostosa”. E as que têm cérebro (sem excluir as que têm cérebro e bunda)? Ficam onde? Respondo-lhes: devem estar nesse instante fazendo abdominais, morrendo de fome. Perguntando-se onde estará o problema ou quem sabe com o telefone em punho pensando em discar os primeiros números, dispostas a mudar sabe-se lá o quê em função de um fulaninho qualquer.

A gente acaba tendo que ser PSICÓLOGA, profundas entendedoras da alma masculina, das dúvidas, do medo que eles têm de nos fazer sofrer. NOSSA, COMO SÃO BONZINHOS!

“Feministazinha desgraçada!”, agora sim aos gritos.

Naquele dia acabei no domingo indo dormir indignada, até que durante minhas andanças para o Fórum, passei por dois policiais militares fardados que estavam recostados na passarela que dá acesso ao local. Eu vinha com pressa e pensando num amigo que precisava ir ver, mas sem querer detive-me no diálogo dos dois:

- Eu tenho que ver como faz para colocar essa segunda camada em banho Maria!

- É...e tem que ter cuidado com o chocolate também! Pra não perder o ponto.

Eu sorri. Vi ali a graça cotidiana tantas vezes difícil de enxergar pela correria, pelo excesso de compromissos e falta de tempo. Confirmei que de fato a inversão de valores e comportamentos que tanto falei aconteceu. Mas, ao contrário do que imaginei, não foi de todo mal. Restou-me um grãozinho de esperança na raça masculina. Pois do mesmo modo que existem “NARCISOS” imperfeitos em busca de uma perfeição inalcançável e olhando para o próprio umbigo, há também homens que dedicam seu tempo e suas palavras a um pedacinho do universo feminino, nem que seja por meio de uma receita e aquela conversa que ouvi alcançou ares de uma discussão de “filosofia culinária”.

Não tenho como apontar que tipo de comportamento aqueles homens tinham, se bons, se honestos, fieis, mas saibam que hoje creio que existem exceções.

Bobagem? Pode ser.Mas o suficiente para não soterrar por completo meu desejo de ser eu mesma sempre, com meus valores de antigamente e minhas buscas consideradas ultrapassadas. Eu continuo sim querendo ser uma velhinha amando meu velhinho, rodeada de netos, feliz, sentada em minha cadeira de balanço e com muita história pra contar.

Quanto ao banho-maria, isso é melhor que ELES descubram

. metade .


Em minhas mãos seguro a caneta que agora firmemente te escreve. Gostaria de falar sobre banalidades, sobre tudo que ando fazendo ou mesmo perguntar simplesmente como anda tua vida.
Cartas de amor já te escrevi, fui além delas talvez. A velha história de que a vida cabe em um livro, tem aplicação a nós dois. Nunca obtive respostas tuas, ao menos não claramente. Só depois compreendi que és entendível somente nas entrelinhas. E, para te ler é necessária infinita paciência.
Mesmo assim te amei. Amei-te com força, sem meias verdades, amei-te de maneira genuína, quase infantil. Foi belo o meu amor, bem sabes disso. Poderia escrever colocando cada verbo no presente, afinal ainda te amo, mas optei por conjugar o passado. Torna-se mais fácil, assim, exorcizar os fantasmas quando não mais desejamos que façam parte de nós. Não te quero em mim, entendas.
Mais uma carta de amor se forma nesse emaranhado de letras. A última, digo-te sem medo. E, a primeira de adeus. Foi este o modo que encontrei para fazer livre esse sentimento e dar-me asas para voar em outra direção.
Não mais desejo que habites meu coração, pois não foste inquilino zeloso, quebraste as paredes e danificaste as pilastras. No jardim, antes alegre, restaram flores que esqueceram de sorrir. A sala anda suja e desarrumada, lençóis desbotados e chão sujo. Toda esta bagunça terei que arrumar sozinha.
Lembro que entreguei a ti tudo na mais perfeita ordem. A todo instante busco o porquê da ausência de cuidado com meu coração, logo com ele que sempre saltitava ao te ver, parecia desejar-te inteiro! Foste egoísta e isso é o que mais me dói.
Por muito afirmei não carregar arrependimentos. Não menti, no entanto, hoje admito que se me fosse presenteado o tempo voltaria atrás e te expulsaria de minha vida. Faria-o não pelas dores, pois sempre me julguei forte para suportá-las, mas para não ter que conviver com tua ausência, para não ter que te mandar embora.
Também me despeço dos sonhos, dos planos, das conversas que não tivemos, do silêncio que poderíamos compartilhar. Aceno para este sentimento que foi extensão de mim, posto ter sido verdadeiro desde o dia que nasceu.
Em relação a ti, sinto-me como uma pequenina boneca de massa amarela, que numa brincadeira resolveu abraçar o bonequinho azul, que era tu. Os bonecos, por estarem receptivos ao abraço enlaçaram-se com força, de modo que ao se separarem perceberam que em ambos restaram pedacinhos um do outro. Eram pontinhos de massa azul colados ao meu corpo, pontinhos teus que agora moravam em mim. Inicialmente aquele colorido me fez sorrir, senti-me inserida numa espécie de arco-iris de modelar.
Os pedacinhos azuis começaram a se misturar mais e mais ao meu amarelo, até chegarem ao verde. Já não era uma bonequinha amarela – era amarela, azul e verde. Era uma bonequinha da cor do sol que precisava de mais abraços daquele que tinha a cor do céu. No entanto, tu buscaste outras cores e sequer te preocupaste em levar de volta o que deixaste em mim.
A todo instante tentei arrancar o azul e tudo teu que permaneceu. Em alguns momentos quis menos do que ousava dizer, noutros jamais quis. Errei imaginando que guardar o azul não representava ofuscar o amarelo. Por mais que, assim como os bonequinhos de massa, as pessoas também se confundam, jamais isso poderia significar me deixar perdida por aí, tal como fiz por ti.
Certamente permanecerás em mim para sempre, no entanto, necessito dissipar-te pelo meu corpo, de modo que se ausentes do meu coração.
És gente grande, mas que se ama “de menos” para permitir que alguém te ame demais, que n compreende tb ser responsável por aquilo que cativa, que reconhece valores e princípios mas não consegue ou não quer vivê-los.
Espero que isso mude, porque é muito triste uma pessoa que nunca tenha encontrado alguém para amar. Se essa pessoa pudesse reconhecer na outra o que um amor incondicional – a pura combinação de aceitação e compaixão – ou se pudesse se permitir sentir-se objeto de afeição e amor, veria o tamanho do impacto e do extremo valor para ela. Pois existe dentro de nós uma boa semente pronta a despertar e amadurecer em decorrência das demonstrações sinceras de amor.
Foste grande em muito do que fiz, quem sabe se eu tivesse te feito menor, meu tamanho aumentasse para ti. Agora, não posso te desejar felicidade, porque meu conceito de felicidade para tu trazia no bojo meu nome.
Foi amor verdadeiro, mas amor é sentimento que exige mão dupla, esforços compartilhados, olhares da mesma direção. Amor que não se vive, é menos amor e mais sonho.
Foste meu amor, não fui o teu. Lamento, mais por tu do que por mim, pois bem sei que poderia ter enchido tua vida com o barulho do meu riso e teu riso com o som da minha vida.
Por inteiro te amei, inteiro também foi o amor que carreguei. Foste inteiro em mim inteira, assim como inteiro é este adeus. Mas, saiba que a inteireza do que senti, permite-me afirmar que eu poderia ter te amado por minha vida inteira.
Então, adeus daquela que aqui fica, pela metade.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

. dias normais


(Texto escrito em homenagem a minha amiga Lívia Reyes, exemplo de força, de fé e do que é ser gente. )




Falaram-se, certa vez, sobre a saudade de dias normais. Senti nessas palavras um pouco de tristeza e meu coração revirou-se no peito. O que seriam dias normais?Da saudade eu conhecia. Há tanto tempo ela invadiu minha vida que acabou se tornando extensão de mim, era uma espécie de caixa do tamanho do mundo que por mais que enchesse de objetos jamais conseguiria preenchê-la por inteiro. Passei, então, para a palavra “dias”. O que significaria? Junção de horas que somados culminavam em um mês ou quem sabe aquele espaço de tempo valioso que nos é dado para viver, sempre um de cada vez. Dificuldade maior encontrei para saber o que é “normal”. Poderia ser aquilo que está conforme a regra comum, que funciona como modelo, que é exemplar, habitual ou quem sabe uma soma de 2+2 que sempre dá igual a 4. Nada de anormal no normal, pensei. No entanto, não queria ser normal ou ser comparada a qualquer operação matemática cujo resultado é exato. Ser normal é chato, previsível e não enche nosso espírito de aventura. Ser normal é pra gente normal, que acredita que se ri somente na vitória e na alegria, ao invés de fazer careta para o que oprime e nos quer roubar o sorriso. Ser normal é para aquele tipo de pessoa que vê a vida em preto e branco, que não tem coragem de andar com pincel em punhos e pintar uma nova paisagem a cada instante. Ser normal é para os medrosos, que tapam os olhos diante da curva fechada nessa imensa estrada que é a vida.Quem me falou dos dias normais não é normal. Não é aquele tipo de pessoa que se encontra em cada esquina, na padaria ou num supermercado. Tem varinha mágica, tal como as fadas...Brilha como estrela...Tem asas, como os anjos e o dom de ensinar, embora não seja professora. Esse alguém me abraça com o olhar e já tomou tanto de mim para si que às vezes esqueço que a imensa caixa que chamei de saudade precisa ser preenchida, faz o somatório das horas passar depressa transformando os dias em segundos e me ajuda a enxergar o quanto é valioso o simples ato de respirar e se sentir vivo. A importância de estar aqui. É um ALGUÉM com letras maiúsculas que me mostrou que normal é o que se vê lá fora e não dentro da gente. Queria dizer, finalmente, a este que tanto me presenteia, que a saudade que mora nele não é dos dias normais, mas do especiais, posto ser ele parte disso.Queria dizer, finalmente, a este que tanto me presenteia que a saudade que mora em mim, é dele.

terça-feira, 8 de abril de 2008

. o alguém que falta .

Quando resolvi escrever estava pensando em alguém que teoricamente seria inviável pensar, não por ser proibido ou inconcebível o pensamento, mas inusitado. Peço licença para a utilização de um advérbio: MUITO inusitado.

Não sei ao certo o “porquê” de tal pensamento, no entanto, aprendi a ser corajosa o suficiente para encarar o que me embaralha as idéias. Então, nesses pensamentos, detive-me.

Costumo dizer que pensar em alguém é uma forma de encontro silencioso e natural que estabelecemos com o objeto do pensamento.

Pensamento acontece, não tem roteiro, nem hora de chegada ou para ir embora. Pensamento transparece.

Esse alguém em quem pensei poderia ser só mais um alguém que divide comigo pedaços de uma vida em comum. Somos, esse alguém e eu, unidos pela falta. Falta que já foi minha e agora lhe assombra. Falta por motivos diferentes, mas falta é sempre falta. Aquele vazio interminável que faz eco em cada canto da gente, que faz da gente menos gente e mais o outro.

Teoricamente a falta do alguém que me rouba os pensamentos pouco deveria me interessar, pois minha falta dele proveio. Inobstante, a falta que é falta do alguém que me trouxe a falta, incomoda-me.

Fugindo do óbvio e faltando a lógica que sobrava em minha falta, tudo funcionou diferente. E isso não se deu por ser eu exemplo de GRANDE coração e benevolência, mas pela oportunidade que tive de enxergar que GRANDE sim é esse alguém que de tão grande impossível não ter falta.

Diversos são os modos de descobrirmos os “alguéns” que se escondem por aí. Falta-nos olhos atentos para enxergarmos no alguém, o alguém que falta. Em contrapartida, de nada importa a quantidade de meios se faltar a combinação do impulso dado pela disponibilidade de promover o encontro com o outro, ainda que o outro seja aquele outro que te levou o outro.

O alguém de meus pensamentos me veio através de palavras. Tão lindo esse alguém! Tão sensível! Tão senhor dos sentimentos! Por um instante me perguntei: o que falta a esse alguém, além da falta que sei que não lhe falta? Por onde havia ser perdido alguém-gente? Gente tão gente! Alguém que jamais seria mais um alguém dentre tantos “alguéns”!

Lamentei-me por esse alguém. Lamentei-me sem confessá-lo a ninguém, pois alguns “alguéns” exigiriam de mim uma espécie de orgulho que definitivamente não estou disposta a ter, só porque eles têm.

Talvez o alguém a quem dedico esse texto enxergue na falta o alguém que é, o alguém que deve ser. Afinal, às vezes falta alguém para ensinar, mas na falta do alguém que falta, a vida vem com força e o nó que atrapalha o alguém, desata.

Já fui o alguém do pensamento de outros “alguéns”, já quis ser alguém no pensamento de alguém para quem eu era ninguém, já sonhei ser alguém sem nem saber quem. Muito me faltou, mas muito de tanto que tenho também me ultrapassou. Se o que me falta eu busco e se o que não falta eu dôo, ao alguém das palavras, ao alguém dono da minha falta, dedico frações do meu alguém, do mim que sou. E isso, faço sem receio que me faça falta.

domingo, 6 de abril de 2008

. o improvável .


Quando pequena esperava o natal ansiosa, todas as noites antes de dormir conversava secretamente com Papai Noel, pedia meus presentes, sempre bonecas ou quem sabe uma bicicleta.

Jamais meus pedidos foram frustrados, quanto a isso Papai Noel não falhou.

Irremediavelmente um dia a verdade surge e sabemos, não com pouca dor, que Papai Noel é aquele barrigudinho que todo dia te leva à escola e te manda comer com a boca fechada. Idéia difícil de ser digerida, mas que com o passar do tempo aceitamos.

Já adolescente, nossas preocupações mudam. O espírito natalino vai embora, na verdade parece que nem existiu, assim como Papai Noel. As preocupações se voltam para que roupa usar ou que presente dar de amigo secreto. Vamos ao cabeleireiro, pintamos as unhas, vestimos o melhor figurino...Tudo isso para se empanzinar com um peru de carne dura, que no outro dia será responsável pelos “Ai como eu to gorda!” ou pelos “Eu juro que nunca mais vou comer assim!”. Aí vem o reveillon e você ta lá, comendo como um flagelado e agarrada com o peru como se ele fosse seu príncipe encantado. Sem contar que fazemos tudo isso para encontrar as mesmas pessoas que encontramos todos os finais de semana e falar dos mesmos assuntos. Mas, chato mesmo é ter que desejar um feliz natal pra aquele parente insuportável, quando sua vontade é enfiar-lhe um tapão no pé da orelha.

Assim como é irremediável a verdade do Papai Noel, também é irremediável a verdade do tempo. E ele passa! Ah como passa! E dessa forma o Natal e a própria vida perdem um pouco do sentido.

O que era a justificativa para o peru, roupas novas ou para falsas felicitações, torna-se a única alternativa para acreditar que algo pode mudar.

Assim que marcamos o tempo, como se um simples 24 e 31 de dezembro resolvessem problemas magicamente. Eu mesmo, rompi o ano de rosa...um novo amor, nada mais revigorante! Acreditei nisso com tanta veemência que queria que em toda esquina ele aparecesse. Confesso que é chato ter essa visão romântica da vida, mas é mais chato ainda ter que empregar uma fuga de nós mesmos. Até me equilibrar em um pé só ( o direito é claro), nos últimos 10 segundos de 2007 eu me equilibrei.

Perguntem-me o que mudou? Nada. No fundo sempre soube que todos os dias são de renovação e que por mais que eu aprenda a voar, ao invés de só me equilibrar, as coisas serão sempre da forma que devem ser. Como eu, existem tantas. Um primo meu certa vez disse que todo dia espera encontrar o amor de sua vida no trânsito. Eu sorri. Achei engraçado um homem esperar o improvável, esperar o amor. Pensei que só eu sofresse desse mal.

Passei bastante tempo com alguém que por um período me fez muito feliz e cuidou de mim, foi assim que conheci o amor. Não economizei sentimentos e planos. Beijei com os olhos bem apertados e chorei de saudade, mas chorei também com as frustrações, com as expectativas não correspondidas, com as mentiras tão verdadeiramente pronunciadas. Conheci do fim, aprendi que o amor também acaba, até quando você confessa ao seu travesseiro que acredita que ele será infinito.

O meu jeito de lidar com tudo isso incomoda, inclusive a mim, mas não posso permitir que contas matemáticas invadam a MINHA VIDA. Toda verdade sobre mim está nas minhas palavras e, delas não abro mão. Prefiro dizê-las a alimentar expectativas fadadas ao fracasso. Regras de três não funcionam numa vida a dois. Mas confesso que, assim como meu primo, continuo acreditando no improvável.

. tão lindo tudo quando é pra ti .

Tão lindo tudo quando é pra ti
Sonhar-te faz minha vida mais feliz
As estrelas que não toco
Em teus olhos enxergo
Tão lindo tudo quando é pra ti
Tua alegria me sorri
E ainda que distante faz-me rir
Tão lindo tudo quando é pra ti
O canto, a música, o silêncio,
As palavras guardadas, a sombra, a noite...
E ainda que não te veja
Que não te toque, sinto-te um pouco em mim...
Por vezes é como não ver o sol
E ao mesmo tempo carregar a certeza que lá ele está.
Trazendo luz
Levando tristeza
Enchendo o vazio de cor
Aprendo a voar para te ver do longe e do alto
Mandar meus ventos para teus ares
E te ajudar a sonhar
Falar-te coisas lindas no meu silêncio e ser teu anjo
Encontrar e proteger
Não sendo meu
Não sendo tua, nada importa
Linda vida esta minha
Pois tão lindo tudo quando é pra ti.

. certeza incerta .



Acredito ser possível sim se viver bem sozinha. É uma questão de opção. A quietude também traz benefícios, vem de mãos dadas com a calma, com o sono tranqüilo e livre de preocupações. É certo que há momentos que o vazio aumenta subitamente, como se houvesse a necessidade de um turbilhão para se sentir realmente viva.

Já fiz a opção pela solidão tantas vezes. Eu figurava como minha melhor companhia. Eu e eu mesma ríamos juntas, conversávamos, reclamávamos das bobagens que teimávamos em cometer e, como não podia ser diferente, também nos cansávamos uma da outra. Daí é que vem a necessidade chata de uma 3ª pessoa. Bendita necessidade tão sem necessidade. E vem sem pedir licença, chega na hora errada e com a pessoa errada, eis a pior parte.

Então te embaralham a história, injetam pensamentos indesejáveis numa mente que só quer descanso. É preciso empregar uma força obstinada para fugir deles, haverá momentos em que será estafante.

Sei bem que gostar de alguém não é o tipo de coisa que se escolhe a hora, é algo que acontece. No entanto, para se gostar do outro é preciso estar disponível, viver e vim de um romance com nós mesmos. E disponibilidade está diretamente relacionada a uma quantidade infindável de certezas que a MAIORIA de nós, na MAIORIA do tempo, julgamos não possuir.

Essas incertezas incômodas, parecem perseguir. Quereria que o amor fosse claro para todos e assim fácil a compreensão da beleza de vivê-lo.

Mas a grande verdade é que sem querer deixamos que banalidades sobreponham os sentimentos e assim diminuímos a importância das pessoas, do próprio ato de SENTIR.

Há dias que chega a ser revoltante a superficialidade de tudo, mas vivemos num mundo incongruente, de pessoas incongruentes, de amores incongruentes...Viver passou a ser incongruente.

Não quero constância ou caminhos certos a seguir, mas dê-me a certeza que a essência de tudo será guardada, dê-me a certeza que meu papel, ou o papel de quem lê o que agora escrevo, não será somente o de passar a fazer parte de lembranças.

Desejo bobo esse meu! De tal certeza só sei o nome, nunca a vi ou senti. De tal certeza só sei das incertezas...

Mas confesso, que por maiores que sejam as dúvidas, os entraves de se acreditar em certos valores, por maiores que sejam as quedas e visíveis os meus medos, prefiro permanecer sendo quem sou...Assim boba, assim romântica, assim sonhadora, assim...TÃO EU.

Cansei de lutar com o mundo, vou me abraçar agora.

. para escrever-me .


Quando pensei em escrever me achei pretensiosa e quando comecei a escrever então é que realmente vi a proporção que minha pretensão havia tomado. Não que eu ache que se precisa de grandes coisas pra escrever a não ser um impulso nada moderado e um pouco de inspiração. O impulso eu sei que tenho, já a inspiração chega a faltar-me o fôlego de tanto que a busco.

Acredito que o que me traz aqui é uma imensa necessidade. De início era uma necessidade míope, daquelas que pouco vê, limitada a meus pensamentos pura e simplesmente. Mas então acabei percebendo que escrever além de ser um vício é também um meio de autodescoberta, pode-se se tocar intimamente, sentir a alma e a própria vibração da vida.

Não sei ao certo em que momento essa necessidade se tornou parte indissociável de mim, em que instante pude perceber que viver sem derramar minhas palavras em linhas seria impossível.

Então, eis que aqui estou, nessa incessante busca por ter o que dizer aos que por algum motivo desejam passar os olhos sobre minhas palavras – eloqüentes, loucas, nuas, vivas...- e com um imenso medo de cair no nada, no inebriante vazio daqueles que fazem eco de si mesmo.

Sempre busquei ter uma visão simplista da vida e das pessoas, quiçá de si mesmo, mas quando se decide viver de modo intenso, a sensibilidade se faz presente e então o simples perde um pouco do sentido. Entendam, o simples não deixa de ser simples, apenas passamos a enxergá-lo mais, vemos nuanças escondidas, segredos nada amenos de uma verdade que aquela dose de acomodação nos fazia encobrir.

Tenho a sensação que ao escrever é exatamente isso que acontece comigo. Vejo mais, sinto mais. Por vezes é angustiante, confesso. Afinal tantas vezes prefiro a quietude de emoções amenas, menos vibrantes, prefiro a calma daquele tipo de silêncio que fala alto ao coração. Mas noutras vezes e garanto que na maioria delas, mergulho na vastidão do meu oceano, descobrindo novas vidas, novos amores, novas pessoas que se alojaram em quem sou e que precisam, assim como eu, viver. Escrevo então. Escrevo para pulsar. Escrevo como um modo de sorrir-me, a mim e para mim. Escrevo para tentar viver. Escrevo para reviver a parte da vida que me tolheram. Escrevo para afastar a morte de pedaços meus. Escrevo para escrever-me. Enfim, escrevo
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. a dona da caixinha .



Vim de uma caixinha, pequenina e quentinha, de onde ouvia sons estranhos, de onde me chamavam de algo difícil de compreender. Por vezes senti saliências, assim descobri meus dedos.Senti frio quando saí, assim comecei a descobrir o mundo. Ao abrir meus olhinhos conheci a dona da caixinha e ela me ensinou a chamá-la de mãe. Os sons estranhos, eram meu nome, Regininha. Recebi mimos e carinhos, abraços apertados e aconchegantes. Ela deu-me a mão e me ajudou a dar os primeiros passos, ensinou-me o equilíbrio necessário para compreender que caminhar não significa apenas seguir em frente, mas hesitar, errar caminhos e reerguer-se diante da queda. A dona da caixinha ensinou-me o amor, aquele tipo de amor presente nos olhos, aquele amor que penetra, aquela espécie de amor pouco compreensível, mas extremamente viva. Ajudou-me a pronunciar a primeira palavra, que por ironia não foi o seu nome. Disse-me o que era sonho e felicidade em palavras vãs, ainda hoje acredito que ela só viveu plenamente a primeira. Ela me apresentou a Deus e a fé. Lembro-me quando falei sobre meu primeiro amor! Parecia que havia injetado em suas veias o meu sentimento. Foi estranho, confesso, pois até então, amor para mim era o que enxergava em seus olhos. Sempre dizia: “Olhem como ela é linda. É bastante estudiosa também, será estudante de direito!”.Podia sentir o rubor do meu rosto, fugia da idéia de decepcioná-la. Sem que pudesse esperar recebi a notícia, o chão pareceu não existir, questionamentos invadiram minha cabeça com força brutal, por mais que meus olhos buscassem algo visível o que era nítido esvaiu-se. Assim a dona da caixinha foi embora. Sem que pudesse me despedir. Vê-la rígida, sentir sua total ausência de vida pulsante e paradoxalmente viva fez minha alma chorar. O peso que carreguei nos ombros, fez-me crer na fraqueza que julgava irreal. Lacrar sua existência com um pedaço talhado de madeira me fez a personificação do desespero. Gritos e lágrimas. Essa fui eu. Cantei uma música triste que guardei em um canto escondido da minha memória...”olha, eu queria te falar agora, te encontrei por essa estrada afora e guardei você no coração. Olha! Um flor não é tão linda a toa, pois precisa de uma terra boa, pra poder dar frutos e crescer! Ah! Se eu pudesse, num gesto, num carinho, mostrar o que você é pra mim...” Quanta falta sua presença faz pelos cantos da casa. Ainda procuro sua voz, por vezes peço que me toque. Ela me ensinou a fé, mas eu questionei Deus. Quem estaria comigo quando minha caixinha estivesse cheia? Não importa. Não será ela. Deus levou a dona dos olhos mais brilhantes. Levou a guardiã da minha felicidade. A saudade invadiu meus dias, minhas noites, enfim...minha vida. Mas, minha vida também foi invadida pelo discernimento e pelo exercício incondicional do amor que minha mãe me ensinou.Exercitar esse sentimento me fez, não compreender, mas aceitar a saudade. Recomeçar é necessário e imprescindível para crescer. Preencher nossa vida com sentimentos diferentes do que aqueles que buscamos é inevitável quando o que queremos é simplesmente viver! O amor enaltece e acalma... E é esse amor que me faz permanecer, que me faz enxugar as lágrimas quando elas inconscientemente se fazem presentes em meus olhos. Saudades infinitas sinto e sentirei ao imaginar como tudo seria diferente se ela estivesse aqui, mas sua presença não é menos intensa, não é menos tocável. Não compreendo a morte, nem mesmo as razões de Deus, mas compreendo que a vida é um processo de dever ser, uma série de estados que devemos atravessar, muitos falham porque escolhem um estado e nele permanecem. Eu quis continuar, os dissabores da vida também alimentam o espírito e ensinam a viver. O amor por minha mãe é renovado sempre que compreendo que sonhos pequenos não são capazes de dignificar e justificar a existência do homem. ELE levou a dona da caixinha, levou a minha mãe querida, mas deixou em mim o mais profundo agradecimento por fazer parte DELA e, a isso, chamo AMOR.

terça-feira, 1 de abril de 2008

. vamos lá, Regina! .

Parei pra pensar na vida, ou melhor, resolvi enxergá-la. Vi cada arranhão, cada ferida aberta, cada corte, cada pedacinho de mim que clama por cura. Confesso, não gostei do que vi. Não sei ao certo o porquê desse descontentamento. Talvez seja em função do desestímulo que vez ou outra bate na porta de todo mundo, ou quem sabe a realidade nua e crua que resolveu, sem minha autorização, fazer-se presente.
Para ser bem sincera, a resposta agora pouco me interessa. Só de pensar em buscá-la sinto preguiça. Viram? Preguiça! Não gosto de ter preguiça. Preguiça leva a comodismo, que leva a inércia, que, por sua vez, deságua no NADA.
Além de preguiçosa, descobri-me óbvia demais. E o pior: óbvia para mim. Onde estaria minha capacidade de surpreender-me? Surpreender aos outros pouco importa, queria mesmo é ser tomada pela sensação de realizar algo inesperado, sentir meus olhos saltarem de surpresa e questionar, finalmente: ‘Regina, como você pôde fazer isso?’.
O próprio ato de escrever me pareceu óbvio. Após ler alguns textos meus, diante do papel percebi que sigo uma espécie de roteiro: palavras bonitinhas que culminam numa mensagem sobre o que é a vida, sobre o que é o amor e mais meia dúzia de “blá blá blás” que agora realmente duvido possuírem alguma aplicabilidade prática.
A verdade é que me sinto uma adolescente oprimida, que veste preto e estampa no peito o rosto de Che Guevara. Uma adolescente tomada pela revolta diante de um mundo que sequer sabia existir e que, repentinamente, se vê fazendo parte dele.
Vamos lá, Regina! Pinte a cara! Saia às ruas! Grite. Vamos lá, Regina! Faça do “cale-se” de Chico o cálice que vai te embebedar de vida! Vamos lá, Regina! Faça jus a teu nome e reine absoluta! Levante, sacuda e poeira e dê a volta por cima! Vamos lá, Regina! Seja politicamente incorreta! Diga não ao que te chicoteia o espírito e te expõe a carne! Seja livre, Regina! Fale palavrão! Chute o balde e mande pra puta-que-o-pariu o que te faz triste! Vamos lá, Regina! Vamos...
[...] PAUSA, primeiro ato [...]
Eu fui.
[...] PAUSA, segundo ato [...]
Eu voltei.
Voltei após berrar meio mundo de “vá se foder”, após tomar porres e sentir o chão frio. Voltei depois de encher o cálice até boca, dar a cara a tapa e criar asas. Voltei suja de poeira e tonta de dar voltas. Voltei sangrando, mas pus fora o que me castigava. Voltei quando percebi que me surpreendi ao duvidar de mim, ao julgar-me menos do que sou, esbravejando serem minhas palavras poucos importantes, ser o óbvio erroneamente frágil. Voltei e “ME TROUXE” comigo.
Finalmente, agora, questiono: “Regina, como você pôde fazer isso?”

domingo, 30 de março de 2008

. carta a minha amiga Flor.

Topo da Macieira, 28 de março de 2008.

"Olá querida Flor! Recebi sua carta e, de antemão, peço desculpa pela demora para enviar a resposta. Andei sem tempo, meu ninho estava cheio ovos e quando meus passarinhos finalmente vieram à tona, muito embora tenham me trazido bastante vida, também passaram a me dar trabalho. A todo instante ia em busca de comida para colocar em seus pequeninos bicos, fazia abrigos para protegê-los da chuva, tendo finalmente descanso quando os mais velhos aprenderam a voar e passaram a me ajudar com os menores. Confesso amiga Flor, que ao ler tuas palavras fiquei um tanto preocupada. Senti teu coração confuso, inquieto, à espera de algo que até agora não consegui dar nome. Sei bem que tamanha afobação é por causa do amor que passaste a nutrir pelo teu vizinho Girassol.
Difícil expor minha opinião sobre alguém que não conheço, a não ser através de ti, que a todo instante fala do Girassol com os olhos cheio de brilho. E essa tua intensidade em sentir tudo da maneira mais plena é realmente encantadora. No entanto, é preciso ter cuidado, pois a disponibilidade de doação, para o que quer que seja, tem que partir de ambas as partes.
Não sei muito do Girassol, mas acredito saber um pouco sobre a vida. Flor, eu demorei muito para descobrir o que era ser um pássaro, voava de uma árvore a outra sem grandes pretensões, visitava flores e árvores constantemente e detive minha atenção bastante tempo no sentimento que guardava pelo João-de-Barro. Eu era sabedora que meu amor era algo realmente belo, capaz de preencher minha barriga com incontáveis borboletas. Podia sentir meu corpo tremer ao ver o João-de-Barro. Era capaz de contar quantas vezes ele batia suas asas, quanto tempo empregava por dia para construir sua habitação. Reconhecia cada gesto, cada riso e, assim, sonhei que poderíamos voar juntos. Acontece, que o João-de-Barro passou a me trazer incertezas, nem mesmo eu sabia como agir. Acabei perdendo a conta das batidas de suas asas, ao invés de vê-lo rir, eu acabei chorando. E quanto chorei Florzinha. Chorei muito. Sentia algo parecido quando te quebram uma asa, ou no teu caso, arrancam-te uma pétala. Como que por encanto, desaprendi a voar. Já não visitava flores e arvores, passei a ter medo de altura e só erguia meus olhos para ver a pequenina casa erguida pelo Meu João no galho de macieira.
Mas, a hora de compreender o que nos cerca chega. É aquela espécie de entendimento que vem acompanhada da dor, mas o que é a dor senão o combustível da força?
Então, aos poucos, tentei voar novamente. Primeiro alcei vôo de um arbusto que sequer alcançava 1 metro do chão, depois de um pé de laranja. Vez ou outra caia, mas pouco depois estava lá tentando novamente. Ao me sentir mais segura resolvi voar o mais alto que pudesse. Saltei, assim, de um pé de graviola antigo. Bati minhas asinhas. Continuei batendo, batendo e resolvi pousar naquele pé de macieira onde morava o João-de-Barro. Ao descansar minhas asas naquele galho me aproximei da pequena casa e vê-la de perto pela primeira vez. Olhei-a, toquei-a levemente e, para minha surpresa, grande parte da parede ruiu. Observei atenta e percebi que tantas imperfeições havia naquele lugar, espaços a serem preenchidos, estrutura a ser recomposta e fortalecida. Entendi que o local que um dia quis habitar não era tão perfeito quanto imaginei e que, conseqüentemente, o proprietário também. Afinal, o que somos nós senão o que nos cerca? Senão o reflexo do lugar que escolhemos para crescer, viver e fazer de abrigo? Paredes fortes são construídas por gente forte. Eu era forte, logo incompatível com aquele lugar. Não pertencia a mim aquele galho, aquela casa. E, o barro com a qual foi construída sujou minhas frágeis asas. Dali sai e pretendo jamais voltar. Hoje querida flor, ainda observo a casa do João-de-Barro, ele ainda me visita. Confesso que meu coração saltita, talvez o hábito lhe cause excitação, mas a visão daquela casinha agora é diferente. Diferente pois a faço do alto. Dizem que no mundo dos homens havia um escritor que falava da importância de sermos a maça do topo, resolvi seguir seus conselhos e fui morar na mesma macieira que o inconstante João. No entanto, agora se alguém quiser me ver tem que olhar para cima, porque perdi o medo de altura e fiz das minhas asas armas capazes de me levar para longe de tudo capaz de me fazer triste. É Flor, o topo da macieira agora me pertence.
Tu, querida amiga, realmente queres um Girassol que te olha durante o dia e se esconde durante a noite? Nem toda hora o sol brilhará em tua direção e seus olhos com os dele se encontrarão. Não vivas esperando esse instante, busque sim olhar ao teu redor, na direção que desejares. Não queiras somente enxergar, mas que te enxerguem. Tão bela flor deve ser objeto de admiração. Tantos pingos de chuva já te beijaram e se viram apaixonados.
Não desmereço tuas verdades e teus sentimentos, pois bem sei que existem verdades que devem ser unicamente sentidas, pois dificilmente conseguiremos explicá-las. Não por serem verdades equivocadas, mas por representarem verdades que nossos olhos não estão aptos para ver e que nossa cabeça não está preparada para desvendar. Quando o nosso papel passa a ser o de tentar entender a verdade do outro a tarefa se torna ainda mais árdua, sobretudo quando sentimentos nossos estão inseridos nesse amontoado de idéias.
Precisamos despertar para aceitarmos e entendermos que somos espíritos em experiência, que o compasso no qual levas tua vida, pode ser diferente do Girassol. E estar junto exige o mesmo compasso, é um encontro...encontro de momentos, de vontades, de desejo de troca.
Mas não é sempre que acontece. Sempre existe alguém que lamenta e é preciso exercitar a aceitação do irremediável. Caso o lamento seja teu Flor, tantos te ajudarão a erguer-se. Demoramos a ver que o que mais tem valor não se toca, se sente, da felicidade não sabemos a cor. Da saudade desconhecemos a forma. Não podemos tocar a alegria.
Tudo aquilo que é absolutamente ausente de forma, é rico de conteúdo. É enganoso acharmos que os sentimentos que são a essência de nossa vida, devem ser compartilhados com a posse por quem os nutrimos. Não existe posse nos sentimentos, devemos dá-los simplesmente, doá-los e nunca fazê-lo por interesse ou necessidade de retorno.
Às vezes a vida exige que abramos mão de sentimentos em nome de uma busca que devemos empregar de nós mesmos. E, o que não nos acrescenta definitivamente não deve fazer parte de nós. Sei que não tens asas para habitar o topo de uma macieira, assim como eu, mas tens um cheiro tão bom capaz de se fazer sentir nas alturas. Deixe que o Girassol se volte para ti, tal como se volta para o Sol, deixe que ele se transforme num Giraflor. Perceberás, finalmente, que há tempos o vê de cima, pois seres ÚNICOS, tal como tu, possuem asas invisíveis e são grandes por natureza. O que é de verdade nunca morre e subjuga o tempo. Tal como a amizade entre a Flor e o Beija-Flor.
Cuide-se querida.
Um beijo da amiga Beija, que agora te beija, Flor."

terça-feira, 25 de março de 2008

. a quatro mãos .

Hoje busquei o que escrever e temi não ter nada a dizer. Seria a fatídica fuga de pensamentos e sentimentos? Minha caneta desliza macia ao som de um silêncio cortante, de um vazio inebriante. Minha maior paixão se vê purgada pelo nada, por essa falta de sabe-se lá o quê...Falta de amor, falta de liberdade, falta de emoções vívidas e pungentes. FALTA!

Frases estruturadas me parecem óbvias, pouco óbvia sou eu, que me vejo brincando com palavras sem nada dizer, simplesmente por amá-las. Mas elas são o invólucro de mim, desse recheio que me define. Por vezes não me alcanço, em outras me abraço. Sou um livro inteiro e uma folha em branco, no aguardo de palavras explícitas e misteriosas. Sou amor, sou fracasso, sou a glória, sou os extremos, sou a incapacidade e a força, sou o que digo e mais, sou principalmente o que não consigo dizer.

Vivendo de filosofias pré-moldadas caminho. Olho quadros. Vejo paisagens, escrevo poemas e assim vivo. Amo. Acredito.

Ainda surpreendo-me com as incapacidades do mundo, com o desamor, com as mentiras que contrariamente não estão fadadas ao fracasso.

Talvez a dignidade esteja em não permitir que me lancem no superficial, nas estalactites da alma. Pois sei que o tempo passa, que a maciez da pele vai embora com a mesma rapidez com que surgem os cabelos brancos. Os meus olhos já não possuem o brilho da minha infância. Aprendi a dar mais que meus ganhos e a maturidade que aos poucos chega me faz rir, e eu pensei que me faria chorar. Eu quero mais que a beleza e a juventude de hoje, eu quero amar melhor, quero paciência, quero força, quero ardor, quero a calma da maré, mas também quero a inquietude das ondas.

O relógio da vida não pára, assim como também não pode jamais cessar a busca por aquilo que nos dignifica como seres humanos.

Fiz um pacto com o destino e a quatro mãos construo meu caminho. Eu trago o sonho e ele me embebeda com a realidade.

sábado, 22 de março de 2008

. já me falaram .

Já me falaram que pra ser interessante tem que ser bonita, que pra ser bonita tem que ser magra, que pra ser magra tem que passar fome. Já me falaram que para ganhar dinheiro tem que trabalhar, mas que pra conseguir um bom trabalho tem que ter sorte e que sorte não se compra no mercadinho da esquina. Já me falaram que ter sonhos é bobagem, que sonhar muito é ocupação de preguiçoso e que preguiça faz mal. Que Papai Noel não existe e que só acredita nele quem é criança e que ser criança é tempo finito. Já me falaram que o bom é o preto no branco, que usar preto emagrece e que roupa branca se lava com água sanitária. Que dormir oito horas é o certo, desde que se deite às 10h e se levante às 6h, passando disso te chamam de desocupado. Já me falaram que ler é importante, mas que leitura boa é aquela de gente inteligente e que parecer inteligente ta na moda. Que ser educada é falar baixo, cruzar as pernas quando se senta e que permanecer sentado muito tempo interfere na circulação. Já me falaram que escrever é terapia e que terapia é coisa de maluco. Que ser feminina é estar sempre cheirosa e arrumada, mas que mania de arrumação é irritante. Já me falaram que homem adora mulher de unhas pintadas de cor clara e sem celulite. Que a vida de solteiro é vazia e que a vida de casado enche. Já me falaram que homem não presta e que amor de verdade é estória de novela mexicana. Que romantismo é coisa do passado, que pra se dar bem a gente tem que jogar. Fingir ser. Fingir sentir. Fingir sorrir. Fingir mentir. Fingir fingir. Mas, falaram-me tb da importância de ser fiel a mim, de fazer crescer a crença em minhas convicções. Falaram-me: Regina, seja a senhora das suas opiniões! Que não existem verdades inexoráveis. Então, descobri que beleza de verdade é que ta do lado de dentro, que pra ser bonita basta se sentir assim. Descobri que comer além da conta às vezes não faz mal a ninguém e que dinheiro não é o mais importante. Aprendi que sorte é materialização do esforço e que o trabalho dignifica qualquer conquista. Descobri que sonho é como o sangue que corre nas veias e que ter preguiça é natural. Que permanecer criança é tão importante quanto se tornar adulto. Aprendi que ao preto e ao branco podemos misturar cores e fazer do mundo um arco-íris. Aprendi que não importa dormir 8 min, 8 horas ou 80 anos, se o que vale é estar acordado para os sinais que a vida nos dá. Aprendi que ser desocupado é um tipo de ocupação que estabelecemos com o nada e que fazer nada também cansa. Que todo tipo de leitura alimenta desde que nos remexa por dentro. Que a inteligência da moda é aquela que nos permite entender e aceitar o outro como nosso irmão. Aprendi que ser educada é demonstrar respeito. Que gritar limpa o espírito. Que pra circulação é bom fazer caminhada e que é pra frente que se anda. Aprendi que caneta e papel em mãos é arma contra a melancolia e que todo mundo precisa de terapia. Que de médico e louco tb tenho um pouco. Aprendi que felizes são os malucos, pois eles são livres. Aprendi que o que irrita é necessário e que até o necessário é prescindível. Que esmalte escuro fortalece as unhas e que celulite é feminino. Aprendi que o que preenche a vida não é seu estado civil, mas o recheio que escolhemos para colocar dentro dela. Aprendi que o sexo masculino é sofisma e, por isso, sempre inconclusivo e inconcluso. Aprendi que ser antiquada é bacana e que tb posso ser atriz de novela mexicana. Aprendi que ser má jogadora não me torna necessariamente uma perdedora. Aprendi que o amor tb pode vir de mãos dadas com a dor. Aprendi que não adianta forjar sentimentos, ensaiar sorrisos, maquinar mentiras ou fingir ser fantoche dos acontecimentos. Aprendi ser EU, com todas as cargas, todos os pesos, todas as dores, amores e dissabores que ser EU me traz. Mas, ser EU, é divertido. Isso, ninguém me falou. Aprendi sozinha.