quarta-feira, 30 de abril de 2008

. dias normais


(Texto escrito em homenagem a minha amiga Lívia Reyes, exemplo de força, de fé e do que é ser gente. )




Falaram-se, certa vez, sobre a saudade de dias normais. Senti nessas palavras um pouco de tristeza e meu coração revirou-se no peito. O que seriam dias normais?Da saudade eu conhecia. Há tanto tempo ela invadiu minha vida que acabou se tornando extensão de mim, era uma espécie de caixa do tamanho do mundo que por mais que enchesse de objetos jamais conseguiria preenchê-la por inteiro. Passei, então, para a palavra “dias”. O que significaria? Junção de horas que somados culminavam em um mês ou quem sabe aquele espaço de tempo valioso que nos é dado para viver, sempre um de cada vez. Dificuldade maior encontrei para saber o que é “normal”. Poderia ser aquilo que está conforme a regra comum, que funciona como modelo, que é exemplar, habitual ou quem sabe uma soma de 2+2 que sempre dá igual a 4. Nada de anormal no normal, pensei. No entanto, não queria ser normal ou ser comparada a qualquer operação matemática cujo resultado é exato. Ser normal é chato, previsível e não enche nosso espírito de aventura. Ser normal é pra gente normal, que acredita que se ri somente na vitória e na alegria, ao invés de fazer careta para o que oprime e nos quer roubar o sorriso. Ser normal é para aquele tipo de pessoa que vê a vida em preto e branco, que não tem coragem de andar com pincel em punhos e pintar uma nova paisagem a cada instante. Ser normal é para os medrosos, que tapam os olhos diante da curva fechada nessa imensa estrada que é a vida.Quem me falou dos dias normais não é normal. Não é aquele tipo de pessoa que se encontra em cada esquina, na padaria ou num supermercado. Tem varinha mágica, tal como as fadas...Brilha como estrela...Tem asas, como os anjos e o dom de ensinar, embora não seja professora. Esse alguém me abraça com o olhar e já tomou tanto de mim para si que às vezes esqueço que a imensa caixa que chamei de saudade precisa ser preenchida, faz o somatório das horas passar depressa transformando os dias em segundos e me ajuda a enxergar o quanto é valioso o simples ato de respirar e se sentir vivo. A importância de estar aqui. É um ALGUÉM com letras maiúsculas que me mostrou que normal é o que se vê lá fora e não dentro da gente. Queria dizer, finalmente, a este que tanto me presenteia, que a saudade que mora nele não é dos dias normais, mas do especiais, posto ser ele parte disso.Queria dizer, finalmente, a este que tanto me presenteia que a saudade que mora em mim, é dele.

terça-feira, 8 de abril de 2008

. o alguém que falta .

Quando resolvi escrever estava pensando em alguém que teoricamente seria inviável pensar, não por ser proibido ou inconcebível o pensamento, mas inusitado. Peço licença para a utilização de um advérbio: MUITO inusitado.

Não sei ao certo o “porquê” de tal pensamento, no entanto, aprendi a ser corajosa o suficiente para encarar o que me embaralha as idéias. Então, nesses pensamentos, detive-me.

Costumo dizer que pensar em alguém é uma forma de encontro silencioso e natural que estabelecemos com o objeto do pensamento.

Pensamento acontece, não tem roteiro, nem hora de chegada ou para ir embora. Pensamento transparece.

Esse alguém em quem pensei poderia ser só mais um alguém que divide comigo pedaços de uma vida em comum. Somos, esse alguém e eu, unidos pela falta. Falta que já foi minha e agora lhe assombra. Falta por motivos diferentes, mas falta é sempre falta. Aquele vazio interminável que faz eco em cada canto da gente, que faz da gente menos gente e mais o outro.

Teoricamente a falta do alguém que me rouba os pensamentos pouco deveria me interessar, pois minha falta dele proveio. Inobstante, a falta que é falta do alguém que me trouxe a falta, incomoda-me.

Fugindo do óbvio e faltando a lógica que sobrava em minha falta, tudo funcionou diferente. E isso não se deu por ser eu exemplo de GRANDE coração e benevolência, mas pela oportunidade que tive de enxergar que GRANDE sim é esse alguém que de tão grande impossível não ter falta.

Diversos são os modos de descobrirmos os “alguéns” que se escondem por aí. Falta-nos olhos atentos para enxergarmos no alguém, o alguém que falta. Em contrapartida, de nada importa a quantidade de meios se faltar a combinação do impulso dado pela disponibilidade de promover o encontro com o outro, ainda que o outro seja aquele outro que te levou o outro.

O alguém de meus pensamentos me veio através de palavras. Tão lindo esse alguém! Tão sensível! Tão senhor dos sentimentos! Por um instante me perguntei: o que falta a esse alguém, além da falta que sei que não lhe falta? Por onde havia ser perdido alguém-gente? Gente tão gente! Alguém que jamais seria mais um alguém dentre tantos “alguéns”!

Lamentei-me por esse alguém. Lamentei-me sem confessá-lo a ninguém, pois alguns “alguéns” exigiriam de mim uma espécie de orgulho que definitivamente não estou disposta a ter, só porque eles têm.

Talvez o alguém a quem dedico esse texto enxergue na falta o alguém que é, o alguém que deve ser. Afinal, às vezes falta alguém para ensinar, mas na falta do alguém que falta, a vida vem com força e o nó que atrapalha o alguém, desata.

Já fui o alguém do pensamento de outros “alguéns”, já quis ser alguém no pensamento de alguém para quem eu era ninguém, já sonhei ser alguém sem nem saber quem. Muito me faltou, mas muito de tanto que tenho também me ultrapassou. Se o que me falta eu busco e se o que não falta eu dôo, ao alguém das palavras, ao alguém dono da minha falta, dedico frações do meu alguém, do mim que sou. E isso, faço sem receio que me faça falta.

domingo, 6 de abril de 2008

. o improvável .


Quando pequena esperava o natal ansiosa, todas as noites antes de dormir conversava secretamente com Papai Noel, pedia meus presentes, sempre bonecas ou quem sabe uma bicicleta.

Jamais meus pedidos foram frustrados, quanto a isso Papai Noel não falhou.

Irremediavelmente um dia a verdade surge e sabemos, não com pouca dor, que Papai Noel é aquele barrigudinho que todo dia te leva à escola e te manda comer com a boca fechada. Idéia difícil de ser digerida, mas que com o passar do tempo aceitamos.

Já adolescente, nossas preocupações mudam. O espírito natalino vai embora, na verdade parece que nem existiu, assim como Papai Noel. As preocupações se voltam para que roupa usar ou que presente dar de amigo secreto. Vamos ao cabeleireiro, pintamos as unhas, vestimos o melhor figurino...Tudo isso para se empanzinar com um peru de carne dura, que no outro dia será responsável pelos “Ai como eu to gorda!” ou pelos “Eu juro que nunca mais vou comer assim!”. Aí vem o reveillon e você ta lá, comendo como um flagelado e agarrada com o peru como se ele fosse seu príncipe encantado. Sem contar que fazemos tudo isso para encontrar as mesmas pessoas que encontramos todos os finais de semana e falar dos mesmos assuntos. Mas, chato mesmo é ter que desejar um feliz natal pra aquele parente insuportável, quando sua vontade é enfiar-lhe um tapão no pé da orelha.

Assim como é irremediável a verdade do Papai Noel, também é irremediável a verdade do tempo. E ele passa! Ah como passa! E dessa forma o Natal e a própria vida perdem um pouco do sentido.

O que era a justificativa para o peru, roupas novas ou para falsas felicitações, torna-se a única alternativa para acreditar que algo pode mudar.

Assim que marcamos o tempo, como se um simples 24 e 31 de dezembro resolvessem problemas magicamente. Eu mesmo, rompi o ano de rosa...um novo amor, nada mais revigorante! Acreditei nisso com tanta veemência que queria que em toda esquina ele aparecesse. Confesso que é chato ter essa visão romântica da vida, mas é mais chato ainda ter que empregar uma fuga de nós mesmos. Até me equilibrar em um pé só ( o direito é claro), nos últimos 10 segundos de 2007 eu me equilibrei.

Perguntem-me o que mudou? Nada. No fundo sempre soube que todos os dias são de renovação e que por mais que eu aprenda a voar, ao invés de só me equilibrar, as coisas serão sempre da forma que devem ser. Como eu, existem tantas. Um primo meu certa vez disse que todo dia espera encontrar o amor de sua vida no trânsito. Eu sorri. Achei engraçado um homem esperar o improvável, esperar o amor. Pensei que só eu sofresse desse mal.

Passei bastante tempo com alguém que por um período me fez muito feliz e cuidou de mim, foi assim que conheci o amor. Não economizei sentimentos e planos. Beijei com os olhos bem apertados e chorei de saudade, mas chorei também com as frustrações, com as expectativas não correspondidas, com as mentiras tão verdadeiramente pronunciadas. Conheci do fim, aprendi que o amor também acaba, até quando você confessa ao seu travesseiro que acredita que ele será infinito.

O meu jeito de lidar com tudo isso incomoda, inclusive a mim, mas não posso permitir que contas matemáticas invadam a MINHA VIDA. Toda verdade sobre mim está nas minhas palavras e, delas não abro mão. Prefiro dizê-las a alimentar expectativas fadadas ao fracasso. Regras de três não funcionam numa vida a dois. Mas confesso que, assim como meu primo, continuo acreditando no improvável.

. tão lindo tudo quando é pra ti .

Tão lindo tudo quando é pra ti
Sonhar-te faz minha vida mais feliz
As estrelas que não toco
Em teus olhos enxergo
Tão lindo tudo quando é pra ti
Tua alegria me sorri
E ainda que distante faz-me rir
Tão lindo tudo quando é pra ti
O canto, a música, o silêncio,
As palavras guardadas, a sombra, a noite...
E ainda que não te veja
Que não te toque, sinto-te um pouco em mim...
Por vezes é como não ver o sol
E ao mesmo tempo carregar a certeza que lá ele está.
Trazendo luz
Levando tristeza
Enchendo o vazio de cor
Aprendo a voar para te ver do longe e do alto
Mandar meus ventos para teus ares
E te ajudar a sonhar
Falar-te coisas lindas no meu silêncio e ser teu anjo
Encontrar e proteger
Não sendo meu
Não sendo tua, nada importa
Linda vida esta minha
Pois tão lindo tudo quando é pra ti.

. certeza incerta .



Acredito ser possível sim se viver bem sozinha. É uma questão de opção. A quietude também traz benefícios, vem de mãos dadas com a calma, com o sono tranqüilo e livre de preocupações. É certo que há momentos que o vazio aumenta subitamente, como se houvesse a necessidade de um turbilhão para se sentir realmente viva.

Já fiz a opção pela solidão tantas vezes. Eu figurava como minha melhor companhia. Eu e eu mesma ríamos juntas, conversávamos, reclamávamos das bobagens que teimávamos em cometer e, como não podia ser diferente, também nos cansávamos uma da outra. Daí é que vem a necessidade chata de uma 3ª pessoa. Bendita necessidade tão sem necessidade. E vem sem pedir licença, chega na hora errada e com a pessoa errada, eis a pior parte.

Então te embaralham a história, injetam pensamentos indesejáveis numa mente que só quer descanso. É preciso empregar uma força obstinada para fugir deles, haverá momentos em que será estafante.

Sei bem que gostar de alguém não é o tipo de coisa que se escolhe a hora, é algo que acontece. No entanto, para se gostar do outro é preciso estar disponível, viver e vim de um romance com nós mesmos. E disponibilidade está diretamente relacionada a uma quantidade infindável de certezas que a MAIORIA de nós, na MAIORIA do tempo, julgamos não possuir.

Essas incertezas incômodas, parecem perseguir. Quereria que o amor fosse claro para todos e assim fácil a compreensão da beleza de vivê-lo.

Mas a grande verdade é que sem querer deixamos que banalidades sobreponham os sentimentos e assim diminuímos a importância das pessoas, do próprio ato de SENTIR.

Há dias que chega a ser revoltante a superficialidade de tudo, mas vivemos num mundo incongruente, de pessoas incongruentes, de amores incongruentes...Viver passou a ser incongruente.

Não quero constância ou caminhos certos a seguir, mas dê-me a certeza que a essência de tudo será guardada, dê-me a certeza que meu papel, ou o papel de quem lê o que agora escrevo, não será somente o de passar a fazer parte de lembranças.

Desejo bobo esse meu! De tal certeza só sei o nome, nunca a vi ou senti. De tal certeza só sei das incertezas...

Mas confesso, que por maiores que sejam as dúvidas, os entraves de se acreditar em certos valores, por maiores que sejam as quedas e visíveis os meus medos, prefiro permanecer sendo quem sou...Assim boba, assim romântica, assim sonhadora, assim...TÃO EU.

Cansei de lutar com o mundo, vou me abraçar agora.

. para escrever-me .


Quando pensei em escrever me achei pretensiosa e quando comecei a escrever então é que realmente vi a proporção que minha pretensão havia tomado. Não que eu ache que se precisa de grandes coisas pra escrever a não ser um impulso nada moderado e um pouco de inspiração. O impulso eu sei que tenho, já a inspiração chega a faltar-me o fôlego de tanto que a busco.

Acredito que o que me traz aqui é uma imensa necessidade. De início era uma necessidade míope, daquelas que pouco vê, limitada a meus pensamentos pura e simplesmente. Mas então acabei percebendo que escrever além de ser um vício é também um meio de autodescoberta, pode-se se tocar intimamente, sentir a alma e a própria vibração da vida.

Não sei ao certo em que momento essa necessidade se tornou parte indissociável de mim, em que instante pude perceber que viver sem derramar minhas palavras em linhas seria impossível.

Então, eis que aqui estou, nessa incessante busca por ter o que dizer aos que por algum motivo desejam passar os olhos sobre minhas palavras – eloqüentes, loucas, nuas, vivas...- e com um imenso medo de cair no nada, no inebriante vazio daqueles que fazem eco de si mesmo.

Sempre busquei ter uma visão simplista da vida e das pessoas, quiçá de si mesmo, mas quando se decide viver de modo intenso, a sensibilidade se faz presente e então o simples perde um pouco do sentido. Entendam, o simples não deixa de ser simples, apenas passamos a enxergá-lo mais, vemos nuanças escondidas, segredos nada amenos de uma verdade que aquela dose de acomodação nos fazia encobrir.

Tenho a sensação que ao escrever é exatamente isso que acontece comigo. Vejo mais, sinto mais. Por vezes é angustiante, confesso. Afinal tantas vezes prefiro a quietude de emoções amenas, menos vibrantes, prefiro a calma daquele tipo de silêncio que fala alto ao coração. Mas noutras vezes e garanto que na maioria delas, mergulho na vastidão do meu oceano, descobrindo novas vidas, novos amores, novas pessoas que se alojaram em quem sou e que precisam, assim como eu, viver. Escrevo então. Escrevo para pulsar. Escrevo como um modo de sorrir-me, a mim e para mim. Escrevo para tentar viver. Escrevo para reviver a parte da vida que me tolheram. Escrevo para afastar a morte de pedaços meus. Escrevo para escrever-me. Enfim, escrevo
.

. a dona da caixinha .



Vim de uma caixinha, pequenina e quentinha, de onde ouvia sons estranhos, de onde me chamavam de algo difícil de compreender. Por vezes senti saliências, assim descobri meus dedos.Senti frio quando saí, assim comecei a descobrir o mundo. Ao abrir meus olhinhos conheci a dona da caixinha e ela me ensinou a chamá-la de mãe. Os sons estranhos, eram meu nome, Regininha. Recebi mimos e carinhos, abraços apertados e aconchegantes. Ela deu-me a mão e me ajudou a dar os primeiros passos, ensinou-me o equilíbrio necessário para compreender que caminhar não significa apenas seguir em frente, mas hesitar, errar caminhos e reerguer-se diante da queda. A dona da caixinha ensinou-me o amor, aquele tipo de amor presente nos olhos, aquele amor que penetra, aquela espécie de amor pouco compreensível, mas extremamente viva. Ajudou-me a pronunciar a primeira palavra, que por ironia não foi o seu nome. Disse-me o que era sonho e felicidade em palavras vãs, ainda hoje acredito que ela só viveu plenamente a primeira. Ela me apresentou a Deus e a fé. Lembro-me quando falei sobre meu primeiro amor! Parecia que havia injetado em suas veias o meu sentimento. Foi estranho, confesso, pois até então, amor para mim era o que enxergava em seus olhos. Sempre dizia: “Olhem como ela é linda. É bastante estudiosa também, será estudante de direito!”.Podia sentir o rubor do meu rosto, fugia da idéia de decepcioná-la. Sem que pudesse esperar recebi a notícia, o chão pareceu não existir, questionamentos invadiram minha cabeça com força brutal, por mais que meus olhos buscassem algo visível o que era nítido esvaiu-se. Assim a dona da caixinha foi embora. Sem que pudesse me despedir. Vê-la rígida, sentir sua total ausência de vida pulsante e paradoxalmente viva fez minha alma chorar. O peso que carreguei nos ombros, fez-me crer na fraqueza que julgava irreal. Lacrar sua existência com um pedaço talhado de madeira me fez a personificação do desespero. Gritos e lágrimas. Essa fui eu. Cantei uma música triste que guardei em um canto escondido da minha memória...”olha, eu queria te falar agora, te encontrei por essa estrada afora e guardei você no coração. Olha! Um flor não é tão linda a toa, pois precisa de uma terra boa, pra poder dar frutos e crescer! Ah! Se eu pudesse, num gesto, num carinho, mostrar o que você é pra mim...” Quanta falta sua presença faz pelos cantos da casa. Ainda procuro sua voz, por vezes peço que me toque. Ela me ensinou a fé, mas eu questionei Deus. Quem estaria comigo quando minha caixinha estivesse cheia? Não importa. Não será ela. Deus levou a dona dos olhos mais brilhantes. Levou a guardiã da minha felicidade. A saudade invadiu meus dias, minhas noites, enfim...minha vida. Mas, minha vida também foi invadida pelo discernimento e pelo exercício incondicional do amor que minha mãe me ensinou.Exercitar esse sentimento me fez, não compreender, mas aceitar a saudade. Recomeçar é necessário e imprescindível para crescer. Preencher nossa vida com sentimentos diferentes do que aqueles que buscamos é inevitável quando o que queremos é simplesmente viver! O amor enaltece e acalma... E é esse amor que me faz permanecer, que me faz enxugar as lágrimas quando elas inconscientemente se fazem presentes em meus olhos. Saudades infinitas sinto e sentirei ao imaginar como tudo seria diferente se ela estivesse aqui, mas sua presença não é menos intensa, não é menos tocável. Não compreendo a morte, nem mesmo as razões de Deus, mas compreendo que a vida é um processo de dever ser, uma série de estados que devemos atravessar, muitos falham porque escolhem um estado e nele permanecem. Eu quis continuar, os dissabores da vida também alimentam o espírito e ensinam a viver. O amor por minha mãe é renovado sempre que compreendo que sonhos pequenos não são capazes de dignificar e justificar a existência do homem. ELE levou a dona da caixinha, levou a minha mãe querida, mas deixou em mim o mais profundo agradecimento por fazer parte DELA e, a isso, chamo AMOR.

terça-feira, 1 de abril de 2008

. vamos lá, Regina! .

Parei pra pensar na vida, ou melhor, resolvi enxergá-la. Vi cada arranhão, cada ferida aberta, cada corte, cada pedacinho de mim que clama por cura. Confesso, não gostei do que vi. Não sei ao certo o porquê desse descontentamento. Talvez seja em função do desestímulo que vez ou outra bate na porta de todo mundo, ou quem sabe a realidade nua e crua que resolveu, sem minha autorização, fazer-se presente.
Para ser bem sincera, a resposta agora pouco me interessa. Só de pensar em buscá-la sinto preguiça. Viram? Preguiça! Não gosto de ter preguiça. Preguiça leva a comodismo, que leva a inércia, que, por sua vez, deságua no NADA.
Além de preguiçosa, descobri-me óbvia demais. E o pior: óbvia para mim. Onde estaria minha capacidade de surpreender-me? Surpreender aos outros pouco importa, queria mesmo é ser tomada pela sensação de realizar algo inesperado, sentir meus olhos saltarem de surpresa e questionar, finalmente: ‘Regina, como você pôde fazer isso?’.
O próprio ato de escrever me pareceu óbvio. Após ler alguns textos meus, diante do papel percebi que sigo uma espécie de roteiro: palavras bonitinhas que culminam numa mensagem sobre o que é a vida, sobre o que é o amor e mais meia dúzia de “blá blá blás” que agora realmente duvido possuírem alguma aplicabilidade prática.
A verdade é que me sinto uma adolescente oprimida, que veste preto e estampa no peito o rosto de Che Guevara. Uma adolescente tomada pela revolta diante de um mundo que sequer sabia existir e que, repentinamente, se vê fazendo parte dele.
Vamos lá, Regina! Pinte a cara! Saia às ruas! Grite. Vamos lá, Regina! Faça do “cale-se” de Chico o cálice que vai te embebedar de vida! Vamos lá, Regina! Faça jus a teu nome e reine absoluta! Levante, sacuda e poeira e dê a volta por cima! Vamos lá, Regina! Seja politicamente incorreta! Diga não ao que te chicoteia o espírito e te expõe a carne! Seja livre, Regina! Fale palavrão! Chute o balde e mande pra puta-que-o-pariu o que te faz triste! Vamos lá, Regina! Vamos...
[...] PAUSA, primeiro ato [...]
Eu fui.
[...] PAUSA, segundo ato [...]
Eu voltei.
Voltei após berrar meio mundo de “vá se foder”, após tomar porres e sentir o chão frio. Voltei depois de encher o cálice até boca, dar a cara a tapa e criar asas. Voltei suja de poeira e tonta de dar voltas. Voltei sangrando, mas pus fora o que me castigava. Voltei quando percebi que me surpreendi ao duvidar de mim, ao julgar-me menos do que sou, esbravejando serem minhas palavras poucos importantes, ser o óbvio erroneamente frágil. Voltei e “ME TROUXE” comigo.
Finalmente, agora, questiono: “Regina, como você pôde fazer isso?”